A primeira-ministra britânica, Theresa May, criticou os dirigentes europeus, nesta sexta-feira (21), classificando como inaceitável a rejeição ao seu plano para o Brexit e alertando que as negociações, que deveriam terminar em outubro, estão “em um beco sem saída”.

May levou uma reprimenda de seus parceiros europeus na cúpula informal de quarta e quinta-feira na cidade austríaca de Salzburgo: seu plano para retirar o Reino Unido da União Europeia mantendo uma estreita relação comercial, mas sem fazer grandes concessões, foi considerado inaceitável.

Nesta sexta, a primeira-ministra, presa entre a exigência de maiores concessões da UE e a rejeição delas por boa parte de seu Partido Conservador, respondeu em um comunicado lido e transmitido ao vivo, de Downing Street, pela televisão.

“Nesta fase, não é aceitável simplesmente rejeitar as propostas da outra parte sem uma explicação detalhada e sem contrapropostas”, disse ela.

“Agora precisamos ouvir da UE quais são os verdadeiros problemas e qual é a alternativa deles para discutirmos. Até fazermos isso, não podemos avançar, enquanto isso continuaremos trabalhando para nos preparar para um Brexit sem acordo”, acrescentou.

Sua intervenção provocou a rápida reação do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que disse em comunicado estar “convencido de que um compromisso, bom para todos, ainda é possível”.

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A libra esterlina, que já estava recuando em relação ao dólar e ao euro, aumentou acentuadamente suas perdas após o discurso de May. De acordo com Craig Erlam, analista da Oanda, é um sinal de que os mercados acreditam que um Brexit sem acordo é cada vez mais provável – algo que teria um elevado custo para a economia britânica, segundo o FMI.

“Os empregos, os salários e os padrões de vida estão em perigo dos dois lados do canal da Mancha”, alertou a diretora-geral da Confederação da Indústria Britânica (CBI), Carolyn Fairbairn.

“Cada dia perdido em retórica é uma perda em investimentos e empregos”, acrescentou.

– ‘Humilhada’ –

“Theresa May conduziu toda a negociação de forma caótica e confusa”, criticou o prefeito de Londres, Sadiq Khan.

“Precisa mudar o curso da negociação antes de que seja tarde demais. Carregar o corpo para a UE salvar sua pele não funcionará”, completou.

A imprensa britânica afirmou por unanimidade que May, que esperava encontrar algum apoio de líderes políticos para além do obtido, foi “humilhada” por eles.

Os chefes de Estado e de governo dos 27 também suspenderam a convocação para uma cúpula especial, sugerida para meados de novembro, para fechar o acordo. Alegam que isso não acontecerá, se não houver progresso real no próximo Conselho Europeu, nos dias 18 e 19 de outubro, em Bruxelas.

Na opinião de Simon Usherwood, professor de Ciência Política na Universidade de Surrey, “os britânicos não tinham feito um bom trabalho na preparação para Salzburgo e, quando a cúpula se tornou inflexível, eles não tiveram mais nada para colocar na mesa em particular”.

“Talvez houvesse a sensação de que a primeira-ministra traria algo mais positivo, mas acho que ninguém na UE, ou na Irlanda, pode ser culpado por isso”, disse o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, nesta sexta.

“Não estamos em guerra com o Reino Unido”, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ao jornal austríaco Die Presse na sexta-feira. Mas “é claro que você não pode deixar a UE e continuar a preservar os privilégios da comunidade. Brexit significa Brexit”, ressaltou.


– May sob pressão –

A principal barreira nas negociações continua sendo o tipo de fronteira a instaurar entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, membro do bloco, quando o Brexit se tornar efetivo em 29 de março de 2019.

May propôs a criação de uma zona de livre-comércio de produtos na zona, mas a UE rejeitou a ideia, ao afirmar que a livre-circulação europeia é um conjunto, que inclui bens, serviços, pessoas e capitais.

A primeira-ministra cedeu e anunciou que, em breve, apresentará uma nova proposta.

Antes da reunião de cúpula da UE em 18 e 19 de outubro, outro desafio aguarda Theresa May na próxima semana: o congresso do Partido Conservador, onde terá de enfrentar a ira dos defensores do Brexit que consideram o plano da primeira-ministra muito conciliador com a UE.

O encontro se aproxima entre rumores de que o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, partidário de um Brexit duro, poderia tentar assumir a liderança do partido.


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