Imposto de Renda e nova escala de trabalho: as prioridades do PT no Senado

Líder do partido na Casa, senador Rogério Carvalho defende foco na mudança da tabela do Imposto de Renda e avalia boa relação com a nova presidência do Salão Azul

Daniel Medeiros/IstoÉ
Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado, em entrevista ao site IstoÉ Foto: Daniel Medeiros/IstoÉ

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), quer o foco do partido nas pautas econômicas, principalmente na mudança da tabela do Imposto de Renda. Em entrevista ao site IstoÉ, ele defendeu a isenção do imposto para quem ganha até R$ 5 mil, nos moldes do projeto que deve ser apresentado em breve pelo Ministério da Fazenda.

O projeto foi anunciado pelo ministro Fernando Haddad no fim do ano passado, mas sofre resistência do mercado financeiro e de uma pequena parcela dos congressistas. O impasse para a entrega da medida fica por conta da compensação, que ainda é avaliada pela equipe econômica. Uma das sugestões é tocar para frente a taxação dos super-ricos.

Confira a entrevista na íntegra:

Na avaliação de Carvalho, o aumento na faixa de isenção do IR deve movimentar a economia e alavancar o poder de compra dos mais pobres. Ele vê o tema como obrigatório na discussão do Congresso Nacional ainda no primeiro semestre deste ano.

“Eu acredito que uma das grandes prioridades é atender uma parte da população que não deveria estar pagando Imposto de Renda. Quem ganha até R$ 5 mil, R$ 6 mil ou R$ 7 mil não deve pagar Imposto de Renda. E quem ganha até R$ 7 mil pagará menos imposto do que paga hoje”, afirmou.

“Esse dinheiro [da isenção] vai para onde? Esse dinheiro vai para a economia, vai para o consumo, vai para o bem-estar das famílias. Então, acho que essa é uma grande prioridade que faz parte da obrigação do Congresso apreciar, que é a reforma da renda, a reforma tributária sobre a renda. Então, acho que esse é um debate prioritário que a gente precisa tocar aqui no Congresso Nacional”, ressaltou o senador.

Outra pauta colocada pelo líder do partido de Lula (PT) é o projeto que reduz a escala de trabalho de 6×1 para 5×2. O texto, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), está travado na Câmara dos Deputados, mas deve voltar a ser discutido neste ano.

Para Carvalho, a medida é necessária, mas ele admite ser preciso encontrar meios de compensação para os pequenos empresários que podem ser afetados.

“Por que nós, servidores públicos, funcionários de estatais, dirigentes de empresas privadas, ou seja, por que a parte mais bem aquinhoada, não as que ganham mais, mas as que têm estabilidade, trabalha 5×2? E a parte mais pobre, mais sacrificada, trabalha 6×1? Então, essas quatro horas, de fato, a gente precisa encontrar um caminho para compensar os pequenos empresários”, afirmou, contabilizando a escala de 44 horas de trabalho semanal.

“Então, nós precisamos ver quem é que não pode absorver esse custo, como é que a gente pode compensar isso, como é que isso pode ser trabalhado para a gente melhorar, do ponto de vista da sociedade como um todo, a integração maior dessas pessoas no lazer”, concluiu.

Assista a entrevista completa

 

Relação com Alcolumbre

Com apoio do PT e de Rogério Carvalho, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) foi eleito presidente do Senado na última semana. Essa é a segunda vez que Alcolumbre ocupa a cadeira mais alta do Congresso Nacional.

O amapaense tem um perfil mais articulador e com forte poder de barganha em troca de emendas parlamentares. Alguns parlamentares afirmam que o governo deve passar por alguns perrengues, até maiores do que os enfrentados com Arthur Lira (Progressistas-AL) na Câmara dos Deputados.

Entretanto, Carvalho tem uma visão que difere desses parlamentares e acredita que haverá harmonia entre o Senado e o Palácio do Planalto. O senador pontuou ter sido líder do partido quando Alcolumbre foi presidente pela primeira vez, durante o governo Bolsonaro, e que parte das pautas anti-progressistas foi barrada pelo presidente do Congresso.

“A nossa expectativa é de que tenhamos uma relação muito tranquila, tranquila no sentido de não ter conflito de procedimento, de obstrução por parte dele nos debates. Quanto a isso, a gente está muito tranquilo”, declarou.

“Eu fui líder, como você mencionou aqui, junto com ele. Em alguns momentos, ele foi fundamental para garantir que determinadas pautas entrassem na ordem do dia, e a gente conseguiu discutir, avançar ou impedir que determinadas derrotas para o nosso campo e para a nossa base acontecessem”, concluiu.