SÃO PAULO, 24 FEV (ANSA) – A pandemia do novo coronavírus provocou uma queda no intercâmbio comercial do Brasil com a Itália, mas o setor de alimentos e bebidas, que dá renome mundial ao “Belpaese”, conseguiu escapar dessa tendência e aumentar suas vendas para o maior mercado da América Latina.   

Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, as importações de produtos italianos totalizaram US$ 3,45 bilhões em 2020, uma queda de 14,55% na comparação com o ano anterior.   

No entanto, de acordo com a Italian Trade Agency (ITA), agência de promoção do comércio exterior do governo italiano, as vendas de itens agroalimentares para o Brasil cresceram 1,06% em 2020, chegando a US$ 231,27 milhões.   

É um aumento modesto, mas que vai na contramão da tendência de queda vista no comércio internacional devido à pandemia do novo coronavírus, que paralisou economias e sociedades mundo afora.   

“O aumento das importações é em parte devido à mudança nos hábitos de consumo e em parte pelo crescimento do mercado, que no passado era concentrado em São Paulo e outras grandes metrópoles, mas hoje há demanda latente por produtos italianos em praticamente todo o país”, diz, em entrevista à ANSA, o diretor da ITA no Brasil, Ferdinando Fiore.   

Durante a pandemia, especialmente nos primeiros meses, governos estaduais e municipais impuseram diversas restrições, incluindo o fechamento de bares e restaurantes, que são um dos principais destinos das importações de alimentos e bebidas da Itália.   

Ao mesmo tempo, os consumidores brasileiros passaram a cozinhar mais em casa, aumentando seu interesse por gastronomia e, por consequência, em produtos geralmente identificados com a excelência.   

“Essa mudança de comportamento provocou também um aumento da compra de produtos genuinamente italianos de alta qualidade, porque todo mundo sabe que os produtos italianos têm um selo de qualidade. Temos mais de 300 produtos DOP [denominação de origem protegida] e IGP [indicação geográfica protegida], com uma cadeia alimentícia muito controlada, então a qualidade dos produtos genuinamente italianos é muito alta. Os consumidores brasileiros começaram a conhecer e comprar esses produtos cozinhando em casa”, diz Fiore.   

Entre os segmentos que tiveram maior crescimento nas vendas para o Brasil em 2020 estão o de biscoitos e bolachas (145%), salames, salsichas e outros embutidos (31%), arroz (30%), vinagres (22%) e farinhas (20%), segundo o ITA. Outros nichos tradicionalmente associados à Itália que tiveram desempenho positivo são os de massas recheadas (14%) e sem recheio (8%), de azeites de oliva (10%) e de tomates, preparados e conservas (4%).   

“A Itália é muito famosa pelas massas e também pelos tomates, molhos, farinhas, biscoitos, chocolates, azeites de oliva, vinagres. São todos ingredientes de qualidade que a gente utiliza também em casa para cozinhar”, explica Fiore.   

Expansão – Segundo o diretor da ITA, o mercado para produtos italianos está se abrindo em outros estados brasileiros, ampliando seu alcance para além do Sul e Sudeste.   

“Uma prova disso é que estamos fazendo ações com sucesso em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, além de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná e Rio Grande do Sul. Para este ano, já estamos prospectando parcerias no Tocantins, na Bahia e até no Acre e em Roraima”, conta.   

A agência realiza anualmente uma campanha chamada “Sabores da Itália”, que tem como objetivo promover produtos “Made in Italy” e o estilo de vida italiano no exterior. A iniciativa chegou à sua terceira edição em 2020, com ações promocionais em 132 pontos no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.   

Segundo a ITA, foram comercializados cerca de R$ 20 milhões em produtos em seis redes de supermercados, e o objetivo para 2021 é promover a campanha em 10 distribuidores e alcançar um crescimento de pelo menos 20% nas vendas. Além disso, a iniciativa vai começar já em março, nas praças de SP e MG, e não mais em outubro, como acontecia anteriormente.   

A campanha ainda inclui vídeos de receitas online e parceria com o site Evino para a comercialização de vinhos italianos. “No ano de 2021, vamos repetir essas experiências de promoção e esperamos que a pandemia nos deixe um pouco em paz”, diz Fiore.   

Sem poder levar compradores para a Itália ou vice-versa, a ITA aposta em outras maneiras de aumentar esse intercâmbio, como apresentar novos produtores para os compradores brasileiros, registrar produtos nos órgãos competentes e organizar degustações virtuais, com as amostras enviadas diretamente aos participantes.   

Entre 15 e 19 de março, a agência vai realizar um encontro digital com 500 produtores italianos, sendo que 20 compradores brasileiros já estão inscritos, incluindo cadeias de supermercados e importadores.   

“Outro evento semelhante, com produtores do Lazio [região onde fica a capital Roma], deve acontecer em maio, e outro específico para vinhos deve ocorrer entre março e abril. Também esperamos voltar com os eventos físicos, tendo confirmadas as participações em feiras como Fispal e Wine South America”, ressalta Fiore. (ANSA).