Sessenta e nove deputados estavam na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro na noite da quarta-feira 23. Pois bem, por 69 votos a zero foi autorizada pelos parlamentares a abertura do processo de impeachment contra o governador afastado, Wilson Witzel — nem um votozinho houve a seu favor. Agora, o impeachment será decidido por uma comissão mista integrada por deputados e desembargadores do Tribunal de Justiça. Witzel costuma gritar muito em qualquer pronunciamento, até em festinha de aniversário de criança. É estilo. Em sua defesa, feita por videoconferência, em vez de gritar, ele berrou. Lembrou o seu passado “sem máculas e sem corrupção na magistratura”, desafiou alguém a “apresentar provas concretas e técnicas contra ele” — nisso está certo, o due process of law exige tais provas. Mas a gritaria, desnecessária, de nada serviu dessa vez. Para quem foi eleito falando em “nova política”, a sua queda definitiva está por um passo e o motivo é o mais velho possível da mais possível “velha política”: Witzel é acusado de crime de responsabilidade por desvios na área da saúde – fato que, aliás, vem sendo bem comum no Brasil, com gente valendo-se da tragédia da pandemia. Segundo o Ministério Público, Witzel estaria envolvido na gatunagem de R$ 1,7 bilhão destinado ao combate contra o coronavírus. Em sua defesa, atribuiu o processo de impeachment a perseguição do presidente Jair Bolsonaro (de quem foi aliado ao longo da campanha). Mais: disse que o Rio de Janeiro está tomado por máfias. Jura, Witzel? É mesmo? Tá brincando, Witzel? Verdade verdadeira é que faz tempo que na política do Rio só resta, de santo mesmo, o nome de São Sebastião. Basta perguntar para os cinco governadores que antecederam Wilson Witzel e que em fila indiana foram para a cadeia. E perguntar ao próprio clã Bolsonaro, que carrega um sobrenome bastante enrolado na Justiça do Rio de Janeiro. 69 a zero, nem em Brasil versus Alemanha.

“Corrupção em pandemia é crime hediondo” Luiz Paulo Corrêa da Rocha, deputado pelo PSDB

Brenno Carvalho

Witzel na telona

Antes de receber a pancada de 69 a zero a favor da abertura de processo de impeachment, Wilson Witzel fez a sua defesa por vídeo conferência — até o último minuto ele garantia que iria pessoalmente à Assembleia Legislativa. Gritou muito, como é sua marca. Lembrou seu passado de juiz. Não adiantou e não era para adiantar mesmo. Ele tem, em nome da ética no trato com a coisa pública, de ser julgado pela comissão mista no Tribunal de Justiça.

RELIGIÃO
Democracia para as religiões afro-brasileiras

Ana Branco

Todo preconceito, se escavado a fundo, tem como raiz a ignorância. Muita gente, nos dias atuais, mantém-se ignorante e ainda olha com olhos preconceituosos para religiões afro-brasileiras — sobretudo umbanda e candomblé. Mas eis uma boa notícia a favor da racionalidade, liberdade de crença e diversidade cultural: objetos de umbandistas e candomblecistas apreendidos pela polícia no Rio de Janeiro, entre os anos de 1890 (já na nossa falsa República, portanto) até 1940, e que estavam até a semana passada no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) foram finalmente liberados e transferidos ao Museu da República. A ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum (foto), principal líder e fundadora do movimento “Liberte Nosso Sagrado”, declarou: “É crime ser do candomblé? É crime cultuar orixás? Conseguimos uma vitória para as religiões afro-brasileiras”.

CIDADANIA
Dá medo!

Divulgação

Entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados. Há um lado bom, há um lado apavorante. Não há dúvida que é o segundo aspecto que mais será utilizado no País, sobretudo em mãos inescrupulosas. O bom: agora, candidatos precisarão de autorização para enviar material de campanha. O péssimo: empresas poderão repassar ao governo informações de seus funcionários, e isso inclui CPF, nome, impressão digital, religião e ideologia.

ELEIÇÕES
O “mago das pesquisas”

Isadora Brant

Opiniões precisas e acerto nas pesquisas eleitorais indicando candidatos favoritos fizeram do sociólogo e cientista político Antonio Lavareda (foto) o “mago das pesquisas”. Ele, que há quarenta anos estuda o tema, inaugura nessa semana, em ISTOÉ, uma página com análises e projeções sobre as próximas eleições municipais em todo o País. Lavareda tem treze livros publicados. Também coordenou o primeiro “Painel” eleitoral no Brasil, em 1985. Por todo o seu trabalho, em 2016 foi homenageado no Congresso da Associação Latino-Americana de Pesquisadores. A sua coluna em ISTOÉ.