Quase 370 mil imóveis seguem sem luz em SP após vendaval

Enel afirmou em comunicado que trabalha para restabelecer o fornecimento de energia na Região Metropolitana de São Paulo até o fim de domingo, 14

falta de luz; enel
Foto: Divulgação/Enel

O mapa da Enel mostra que são mais de 262 mil imóveis sem luz somente na capital paulista, totalizando quase 370 mil imóveis sem luz na área de concessão da companhia no estado de São Paulo – contemplando, além da capital, os municípios do ABC Paulista, Itapevi, Barueri, Osasco e outros.

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O fenômeno que desencadeou a falta de luz foi uma ventania fora do comum nos últimos dias, associada a um ciclone extratropical e a uma frente fria que avançou pelo Sudeste.

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que rajadas chegaram perto dos 100 km/h e se mantiveram por mais de 12 horas, um evento que especialistas e moradores descrevem como excepcional pela duração e intensidade dos ventos.

A força dos ventos provocou queda de árvores, danos à rede elétrica, além do lançamento de galhos e detritos sobre fios e equipamentos. O Corpo de Bombeiros registrou mais de 1,3 mil ocorrências relacionadas a quedas de árvores

Quando os ventos estavam mais fortes, árvores tombaram em várias áreas da cidade e das cidades vizinhas. Galhos e troncos caíram em cima de fios e equipamentos elétricos, e em muitos lugares isso significa fios rompidos, postes partidos e circuitos inteiros desativados.

Para atender casos prioritários, a Enel afirma contar com 700 geradores instalados em áreas críticas. A empresa reforça que seguirá atuando até que o fornecimento seja totalmente normalizado. A distribuidora orienta os consumidores a priorizarem os canais digitais para comunicar falta de energia e acompanhar o andamento do atendimento.

Nos momentos mais críticos do temporal, estimativas indicam que mais de 2,2 milhões de unidades perderam energia ao mesmo tempo em toda a área de concessão da Enel, incluindo capital e municípios próximos. A concessionária afirma ter conseguido religar a luz de boa parte desses clientes, mas ainda há um trecho significativo da população sem eletricidade.

Justiça mandar Enel religar energia sob pena de multa

A Justiça acaou pedido do Ministério Público e determinou, na noite de sexta-feira, 13, que a Enel restabeleça imediatamente a energia elétrica em São Paulo.

Conforme a decisão judicial, a eletricidade deve retornar em até quatro horas para estabelecimentos prioritários e 12 horas para demais consumidores, sob pena de multa de R$ 200 mil por hora de descumprimento.

“Mesmo com a mobilização tardia de equipes, a empresa não forneceu previsão clara e precisa de restabelecimento, ampliando a vulnerabilidade de idosos, crianças, pessoas com deficiência e eletrodependentes, além de paralisar unidades de saúde e atividades econômicas”, diz a juíza Gisele Valle Monteiro da Rocha na decisão.

Em nota, a companhia declara que ‘as condições meteorológicas adversas impactaram significativamente as operações de restabelecimento, pois as rajadas contínuas causaram novas interrupções enquanto as equipes trabalhavam para religar os clientes’.

“Desde a manhã de quarta-feira, a Enel mobilizou um número recorde de equipes em campo, chegando a quase 1.800 times ao longo do dia de quinta-feira. Com as conexões e religamentos realizados até agora, a empresa conseguiu restabelecer o serviço para cerca de 3,1 milhões de clientes afetados pelo vendaval, utilizando sistemas de automação e com o trabalho intensivo das equipes em campo”, diz a companhia.

“A distribuidora está trabalhando para restabelecer o serviço e normalizar o fornecimento aos consumidores atingidos pelo evento meteorológico dos dias 10 e 11 de dezembro até o fim do dia de amanhã”, completa.

Danos para além da falta de luz

Essa sequela de apagões também complicou serviços essenciais na cidade. Sem energia, várias bombas de água deixaram de funcionar nas estações da Sabesp, o que afetou o abastecimento em bairros inteiros. Sem contar o impacto no transporte: sem luz nos sinais, congestionamentos se tornaram ainda maiores e muitas pessoas tiveram dificuldade para chegar ao trabalho ou voltar para casa

No aeroporto de Congonhas, dezenas de voos foram cancelados ou atrasados, enquanto em Guarulhos a programação também foi alterada em função das condições climáticas e da falta de serviços operacionais naquele momento.

Para tentar recuperar o sistema elétrico, a Enel destacou que mobilizou milhares de técnicos e equipes de manutenção, que estão circulando por várias regiões em ritmo contínuo. Em áreas onde os cabos e equipamentos foram mais danificados, as intervenções exigem a substituição de postes, transformadores e até a reinstalação de quilômetros de fiação.

Apesar das obras em andamento, a empresa não divulgou um prazo exato para que todos os consumidores tenham o serviço restabelecido. Ela tem colocado geradores em locais críticos, especialmente onde serviços de saúde e equipamentos essenciais dependem de energia constante, mas muitos bairros ainda esperam por uma ligação definitiva.

Situação intensifica insatisfações com a Enel

Enquanto isso, a reação da população tem sido de impaciência e reclamação por conta dos vários dias sem luz. Em diversas áreas da capital, moradores relatam espera prolongada sem atualização clara sobre quando a energia voltará.

Vídeos e relatos em redes sociais mostram pessoas buscando alternativas para trabalhar em cafeterias ou shoppings, carregar celulares e lidar com o calor e a falta de internet em casa.

Autoridades municipais e estaduais têm pedido explicações à Enel sobre a resposta ao desastre. O tema também chamou a atenção de agências reguladoras, que vêm exigindo relatórios e planos mais detalhados para lidar com esses eventos climáticos intensos, que já causaram interrupções significativas nos últimos anos.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chegou a defender a retirada da concessão de distribuição de energia da companhia por conta da situação.

“Se eles dizem que tem 1,5 mil equipes trabalhando, é óbvio que não tem e que não são confiáveis… se a Enel continuar, teremos problemas nos próximos anos”, disse o prefeito da capital paulista.

O mandatário destaca que enquanto as demais concessionárias de energia que operam no Estado têm aproximadamente 1% da sua base de clientes ainda sem luz, a Enel possui mais de 10%.

“É muito grave já no terceiro dia não ter sido restabelecido ainda a energia em todos os locais”, disse Nunes sobre a falta de luz.