A primeira aparição cartográfica foi em um mapa de 1325. Ali, Hy-Brasil surgia como uma pequena ilha na costa da Irlanda, um local recheado de muitos mitos. Segundo a lenda irlandesa, a região vivia envolta por uma névoa impenetrável, que só desaparecia em um dia a cada sete anos, único momento em que a ilha se tornava visível. Acredita-se que a tradição era fruto de uma miragem, mas acabou incorporada pela cultura dos povos celtas, que circularam pela Europa há cerca de 3 mil anos.

Não se tratava de uma ilha comum – a Hy-Brasil era um lugar mitológico, mágico, sagrado, considerado a morada de fadas e divindades. O nome, aliás, foi inspirado em um semideus, Breasal, considerado o grande rei do mundo e que vivia no país chamado Hy-Brasil (“Hy” vem de “í”, abreviação de “island”, ou ilha). Para estudiosos, a ilha é vista hoje como uma representação simbólica do chamado “Outro Mundo”, expressão cunhada pelos celtas para explicar o inexplicável. Segundo eles, a morte não significava uma interrupção, pois a vida continuaria em outro lugar do planeta, como a Hy-Brasil.

No século 7, um monge irlandês chamado São Brandão foi um dos primeiros a saírem da Irlanda em busca da tal ilha. Os relatos da sua viagem estão hoje na biblioteca do Trinity College e estudiosos acreditam que ele possa ter chegado na América alguns séculos antes dos outros europeus.

Outro manuscrito, de 1636, narra a história de um certo capitão Rich e seus marinheiros que teriam avistado uma ilha a oeste do litoral, com cais e promontório, antes de ela sumir na névoa. Já em 1675, a suposta história do “descobrimento” da Hy-Brasil inspirou um livro que se tornou best-seller na Inglaterra: O’Brazile ou A Ilha Encantada.

De todas as versões, a mais divertida está no filme As Aventuras de Erik, o Viking, que Terry Jones (do grupo Monty Python) dirigiu em 1989. Na trama, Erik (Tim Robbins) parte em busca de Hy-Brasil depois de matar acidentalmente uma jovem. Lá, reza a lenda, é um local paradisíaco, onde o sol sempre brilha, não existe violência e mesmo nas piores crises as pessoas vivem felizes e despreocupadas. Ao chegar lá, porém, a situação é outra: o rei é incompetente, a música é horrorosa e os habitantes são absolutamente incapazes de enxergar a realidade.

Tom Zé fala de sua criação

O espetáculo nasceu de uma canção sua, Língua Brasileira.

Tom Zé: Sim, fiquei muito feliz com isso. Nós, que nascemos no Nordeste, tínhamos outra concepção de mundo, que não é aristotélica. Lembro que Alain Resnais fez um filme (Meu Tio da América), no qual dizia que o ser humano aprende mais de 0 a 2 anos, quando não sabe nem a língua. Foi assim comigo.

Fale do mito da ilha Hy-Brasil.

É o mito que ajuda a explicar o nome do nosso País, que tem origem também no pau-brasil. É uma ilha que se vê apenas a cada sete anos e, assim como a Terra Sem Mal, da mitologia tupi, é um lugar que temos esperança de encontrar.

E as canções feitas para a peça?

Quando faço música, busco algo consistente em meu passado, coisas míticas, como a música caipira. Trabalho muito, experimento muito.