O Brasil atravessa a maior recessão de sua história, o desemprego afeta mais de 12 milhões de trabalhadores e o comércio enfrenta um número recorde de falências, diante de uma demanda anêmica na economia. Nesse contexto, não foi surpresa a inflação de setembro, medida pelo IPCA, ficar apenas em 0,08%, influenciada pela queda abrupta nos preços dos alimentos. Com um número tão eloquente, era de se esperar que a autoridade monetária sinalizasse, logo na sequência, que iniciaria um novo ciclo de redução das taxas de juros no Brasil – que estão fixadas em 14,25% ao ano e são as maiores do mundo, mesmo em níveis reais, quando descontada a inflação. No entanto, o ultraconservador Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, freou qualquer tipo de especulação ao dizer que a velocidade de queda dos preços é “ainda incerta”.

Se ainda faltava um motivo, ele veio na sexta-feira, com a redução dos preços do diesel e da gasolina

Nessa semana, na terça-feira 18 e na quarta-feira 19, Ilan comandará a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando poderá rever seus conceitos. Especialmente porque, se ainda faltava uma justificativa para cortar os juros, ela veio na sexta-feira, quando a Petrobras anunciou a redução dos preços em 2,5% do diesel e em 3,2% da gasolina – o que certamente contribuirá para ancorar ainda mais as expectativas de inflação.

Além disso, um dos argumentos frequentemente usados pelos monetaristas é o de que não se pode mexer nos juros enquanto não houver sinais consistentes de ajuste fiscal. O fato é que, nessa mesma semana em que a Petrobras reduziu seus preços, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, a polêmica Proposta de Emenda Constitucional 241, que congela os gastos públicos pelos próximos 20 anos. Portanto, esse argumento também caiu por terra.

A redução dos juros, nessa próxima reunião do Copom, terá também um efeito simbólico, no momento em que se debate o impacto da PEC 241 sobre áreas como saúde e educação. De todas as despesas do Estado brasileiro, a maior de todas é o serviço da dívida interna, que consome mais de R$ 400 bilhões por ano. Se Ilan e sua equipe não derem sua contribuição para o ajuste fiscal, prevalecerá a ideia de que o Estado brasileiro foi convertido apenas numa máquina de sugar recursos da sociedade para alimentar os rendimentos dos correntistas.

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