O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nesta segunda-feira, 2, durante evento da Universidade de São Paulo, na capital paulista, que “a condução da política monetária foi decisiva para colocar a inflação em trajetória de queda”. Segundo ele, as condições de ociosidade da economia já estavam presentes em meados de 2016, mas o processo de desinflação somente se iniciou após a ancoragem das expectativas.

“Uma análise da dinâmica da inflação que ignora a condução da política monetária pode, na melhor das hipóteses, dar uma visão parcial da questão”, defendeu o presidente do BC. “Desta forma, acreditamos que a estratégia de ancorar as expectativas de inflação antes de flexibilizar a política monetária contribuiu para mudar do binômio inflação e recessão para desinflação e recuperação.”

Estes comentários de Ilan Goldfajn surgem em um momento em que o IPCA – o índice oficial da inflação – tem probabilidade razoável de terminar 2017 abaixo dos 3% – portanto, abaixo do piso da meta de inflação perseguida pelo BC (intervalo entre 3% e 6,0%, com centro em 4,5%). Desde agosto, ele vem defendendo em eventos públicos que o IPCA em 12 meses somente começou a recuar com força a partir do fim de 2016 e que, neste ano, o recuo surpreendeu em função da derrocada dos preços de alimentos.

No mercado financeiro e em setores da iniciativa privada e do próprio governo, porém, a avaliação é de que o BC teria demorado em intensificar o processo de cortes da Selic, o que teria levado a inflação para níveis próximos de 3%.

Recuperação gradual

O presidente do Banco Central repetiu nesta segunda-feira que o conjunto de indicadores se mostra compatível com recuperação gradual da economia. Segundo ele, “é importante observar os dados de atividade nos próximos meses para que possamos verificar o ritmo de recuperação econômica que se desenha”.

Ilan Goldfajn afirmou ainda, em sua apresentação, que, “apesar do ambiente de elevada volatilidade pelo qual o país tem passado, nossa situação econômica vem apresentando avanços”.

“Depois de um crescimento de 1% no primeiro trimestre deste ano, em comparação aos três meses anteriores, a economia brasileira teve um crescimento adicional de 0,2% no segundo trimestre”, pontuou o presidente do BC. “O consumo avançou 1,4% no segundo trimestre, seu primeiro resultado positivo desde o quarto trimestre de 2014. Além disso, o setor externo continua contribuindo para a retomada, com as exportações avançando 0,5% e as importações recuando 3,5%.”

Poder de compra

Ilan disse também que “o ganho de poder de compra se evidencia claramente na parcela da população que recebe o salário mínimo”. Segundo ele, em agosto de 2016, uma pessoa, após usar o salário mínimo de R$ 880 para comprar uma cesta básica de São Paulo (R$ 695 conforme o Procon), ficava com apenas R$ 185. “Em agosto deste ano restam R$ 294, um aumento de 55% após descontada a inflação do período”, citou.

“O crescimento do consumo tem sido instrumental para a retomada da economia”, disse Ilan. “A rápida queda da inflação elevou o poder de compra da população e ajuda a explicar essa recuperação via consumo. Esse é um movimento calcado em bases mais sólidas que no passado, pois se baseia num aumento provavelmente permanente de renda e na redução do endividamento das famílias ocorrido nos últimos dois anos.”