WASHINGTON, 24 SET (ANSA) – A Igreja Católica do Canadá pediu desculpas nesta sexta-feira (24) pelos abusos sofridos por crianças indígenas em suas escolas nas últimas décadas, após milhares de sepulturas não identificadas serem encontradas em antigos internatos no país.   

“Nós, bispos católicos do Canadá, expressamos nosso profundo remorso e pedimos desculpas inequivocamente”, disse um comunicado da Conferência Canadense de Bispos Católicos (CCCB), segundo a imprensa local.   

O documento reconhece os casos como “graves abusos cometidos por alguns membros da comunidade católica”, o que levou a “supressão das línguas indígenas, cultura e espiritualidade, não respeitando a rica história, tradições e sabedoria desses povos”.   

“Também reconhecemos com tristeza o trauma histórico e contínuo e o legado de sofrimento e desafios enfrentados pelos povos indígenas que continuam até hoje”, acrescenta a nota.   

O primeiro pedido de desculpas ocorre “juntamente com as entidades católicas que estiveram diretamente envolvidas no funcionamento das escolas”.   

A mudança na postura segue as recentes descobertas de centenas de túmulos não identificados de crianças indígenas em escolas onde os alunos foram abusados física e sexualmente por diretores e professores que os privaram de sua língua e cultura.   

Do século 19 até a década de 1970, pelo menos 150 mil crianças indígenas foram forçadas a frequentar as chamadas “escolas residenciais indígenas”, uma rede financiada pelo governo canadense e administrada pela Igreja Católica, em uma campanha para assimilá-las à cultura dominante. As crianças, porém, eram vítimas de abusos. A última escola fechou na década de 1990.   

Recentemente, mais de 1,2 mil túmulos não identificados em terrenos de antigas escolas foram descobertos na províncias de Colúmbia Britânica e Saskatchewan e sacudiram o Canadá.   

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, descreveu a história como “vergonhosa” e criticou os religiosos por não fornecerem acesso total aos registros relacionados às instituições.   

No entanto, de acordo com os jornais do Canadá, os bispos disseram que “continuarão o trabalho de fornecer documentação ou registros que ajudarão na memorização das pessoas enterradas em sepulturas não identificadas”.   

Além disso, ressaltou que lançará novas iniciativas de arrecadação de fundos em todas as regiões do país “para apoiar iniciativas discernidas localmente com parceiros indígenas”, além das existentes para promover a cura e a reconciliação.   

Até o momento, o Vaticano, por sua vez, nunca se desculpou pelo tratamento dispensado a crianças indígenas. No entanto, o papa Francisco receberá uma delegação de povos indígenas do Canadá em dezembro.   

O CCCB, inclusive, afirmou que este encontro tem como objetivo determinar como o Papa “pode apoiar o desejo comum de renovar relacionamentos e andar juntos no caminho da esperança nos próximos anos”.   

“Comprometemo-nos a trabalhar com a Santa Sé e nossos parceiros indígenas na possibilidade de uma visita pastoral do Papa ao Canadá como parte dessa jornada de cura”, finaliza a declaração.   

(ANSA)