O despreparo do presidente Jair Bolsonaro para lidar com questões geopolíticas essenciais ao País tem sido constante desde o início do seu mandato. Sua falta de capacidade para compreender o mundo é tão gritante que o Brasil, historicamente conhecido pela competência de sua diplomacia, passou a ser visto como um pária internacional.

Até o final de 2021, no entanto, a irrelevância de Bolsonaro no cenário global estava restrita aos vexames e gafes nas poucas reuniões de chefes de estado que ele teve coragem de comparecer. Seu comportamento trouxe prejuízos à imagem dos brasileiros, mas poucas consequências negativas do ponto de vista pragmático. A desastrosa viagem à Rússia, no entanto, é prejudicial em um patamar muito mais elevado: a ignorância do presidente coloca em risco a paz do povo brasileiro.

Viajar para uma nação como a Rússia no momento em que as tropas daquele país estavam prestes a invadir a Ucrânia era um risco desnecessário que qualquer aluno do ensino médio teria a capacidade de prever. Justificar a visita alegando que os fertilizantes russos são importantes para o agronegócio é assumir que o presidente da República é um garoto de recados de um punhado de fazendeiros.

Uma simples missão comercial com empresários do setor teria sido muito mais produtiva e menos arriscada. Para piorar a situação, Bolsonaro deixou a Rússia insinuando que tinha feito Putin retirar suas tropas da fronteira, o que era uma mentira descarada, e declarando-se “solidário” a ele. “Putin é uma pessoa que busca a paz”, afirmou. Uma semana depois, o pacífico líder russo invadiu a Ucrânia. Bolsonaro não entende nada, mesmo.

O general Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil, condenou o ataque russo à Ucrânia. Seria apenas uma formalidade óbvia, se o Brasil não fosse liderado por homem de 66 anos que possui a mentalidade de uma criança. Bolsonaro, de birra, desautorizou o vice e disse que quem manda é ele. A frase é de uma infantilidade absurda. Isso significa que o Brasil, conhecido por sua tradicional defesa intransigente da paz, não condenou a invasão de uma potência contra uma nação soberana apenas porque o presidente não queria passar recibo de que fez bobagem. É uma vergonha diplomática sem limites.

Há um simbolismo que vale a pena observar: presidentes e diplomatas passaram a semana discutindo a guerra – e o que Bolsonaro fazia, enquanto isso? Batia papo sobre o jogo do Palmeiras com seus apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada e, depois, pegou um avião para participar de uma motociata em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Essa é a postura que se espera de um presidente?

Esse comportamento irresponsável não ficará restrito ao cercadinho bovino do bolsonarismo.

Na sexta-feira, 18, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que “o Brasil parece estar do outro lado”, ou seja, os EUA não veem mais o Brasil como um aliado incondicional. O Departamento de Estado americano afirmou depois que o Brasil “parece ignorar a agressão armada por uma grande potência contra um vizinho menor, uma postura inconsistente com sua ênfase histórica da paz.” Tomamos um pito em público. A troco do quê? Ninguém sabe.
Na manhã dessa sexta-feira, 25, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, telefonou para o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, para falar sobre a crise no leste europeu. O telefonema não constava da agenda do chanceler, o que significa que Blinken ligou para França sem sequer consultar sua agenda.

A atitude, no meio diplomático, pode ser interpretada como um puxão de orelhas. Blinken cobrou que o governo brasileiro condene a invasão russa, pressão que deve surtir efeito na reunião emergencial do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), onde o Brasil ocupa hoje uma cadeira de membro não-permanente.
O silêncio de Bolsonaro não foi visto com bons olhos pelos EUA e Europa, nossos aliados históricos. Ter um presidente que não compreende a complexidade do mundo é um risco para a paz dos brasileiros.