Em 1983, o presidente francês François Miterrand encarregou o arquiteto americano de origem chinesa Ieoh Ming Pei, que não era muito conhecido na Francia, de repensar o Louvre. Seu audacioso projeto, que despertou violentas paixões, foi inaugurado em 1988.
Da pirâmide do Louvre em Paris à torre assimétrica do Banco da China em Hong Kong, Pei, que faleceu nesta quinta-feira aos 102 anos, foi autor de grandes edifícios onde combinou o racionalismo com elementos arquitetônicos tradicionais.
Do Prêmio Pritzker, o “Nobel da arquitetura”, ao Prêmio Imperial japonês, Pei acumulou as distinções internacionais mais prestigiosas. Contudo este pequeno homem de sorriso largo e óculos armação arredondada adquiriu renome mundial a partir dos anos 1980, após construir várias obras nos Estados Unidos.
Nascido em 26 de abril de 1917 no Cantão, China, Ieoh Ming Pei chegou em 1935 aos Estados Unidos para estudar no Instituto Tecnológico de Massachusetts, onde se graduou. Depois estudou desenho na Universidade de Harvard (1948), onde foi aluno de Walter Gropius, fundador da Bauhaus e um dos teóricos do estilo internacional.
Foi professor adjunto em Harvard (1945-1948), e depois diretor de arquitetura no estúdio de Webb & Knapp (1948-1955) antes de criar seu próprio estúdio, I.M. Pei e associados, em 1955.
Criado numa família tradicional de Suzhou, “a Veneza do Oriente”, perto de Xangai, I.M. Pei recebeu de sua mãe, flautista e especialista em caligrafia, sua educação artística.
Ele era levado pela mãe a retiros em monastérios budistas, mas quando Pei tinha apenas 13 anos ela faleceu devido a uma doença. O pai, banqueiro em Hong Kong, foi contratado para ser diretor do Banco da China em Xangai.
Pei se naturalizou americano quando a família foi à ruína devido à revolução comunista e seu retorno à China foi complicado.
Pouco depois, a construção da Mile High Center (1956) em Denver, Colorado, foi seu primeiro grande projeto.
Mas foi a ex-primeira- dama americana Jacqueline Kennedy quem deu um forte impulso na carreira dele após selecioná-lo em 1964 para projetar a Biblioteca J.F. Kennedy em homenagem ao marido assassinado. Foi inaugurada em 1979, e desde não parou de trabalhar.
– Ousado e polêmico –
Em 1978, Pei construiu a extensão da Galeria Nacional de Arte em Washington DC, caracterizada por um átrio triangular transparente. O edifício marcou o presidente francês François Miterrand, que o visitou pouco antes de sua eleição.
Em 1983, quando Pei não era muito conhecido na França, Miterrand pediu a ele de repensar o Louvre. Seu audacioso projeto foi inaugurado em 1988.
Foi “o maior desafio que um arquiteto pode enfrentar”, disse Pei, que nunca havia construído nada em um lugar tão carregado de história.
“Basta colocar os olhos no edifício para sentir a presença do passado, o espírito do lugar”, disse.
Pei teve a ideia de criar uma entrada subterrânea coroada por uma pirâmide de vidro e de metal. A polêmica foi monumental, e um choque para o arquiteto, que foi surpreendido pela violência das reações, que chegava às vezes à xenofobia.
Considerado como um dos principais êxitos arquitetônicos da era Miterrand, o Louvre foi vítima de seu sucesso, com mais de oito milhões de visitantes por ano.
Solicitado em todos os continentes, Pei não esqueceu nunca de suas raízes. “Nasci na China. Ali recebi o essencial da minha educação”, disse.
Em 1982 aceitou -após consultar o pai- construir a nova sede do Banco da China em Hong Kong. Desenhou uma torre de 315 metros de altura numa estrutura em triângulos, que se transformou em um dos edifícios mais emblemáticos da cidade portuária.
O arquiteto deixou igualmente sua marca em Berlim, onde construiu um anexo muito audacioso do Museu Histórico Alemão, inaugurado em 2003.
Infatigável, concebeu também o Museu de Arte Islâmica em Doha, Catar, que foi inaugurado em 2008 e que foi inspirado, segundo seu criador, pela mesquita Ibn Tulun no Cairo.