Pentacampeão da Premier League e campeão da Champions League com o Manchester United, Peter Schmeichel lançou na última quinta-feira (30) a sua autobiografia “Peter Schmeichel – One”. Entre os relatos contidos no livro está a dificuldade da família do ex-goleiro de lidar com o antigo vício em álcool do seu pai, Kasper, e a sua dupla identidade durante a Guerra Fria.
O diário Ekstra Bladet de Copenhague publicou trechos do livro na última quarta-feira (29) e surpreendeu muitos fãs do ex-jogador por conta da sua conturbada relação familiar.
Schmeichel considera que sua pior atitude foi “bater a porta” na cara do seu pai quando o ex-goleiro e a família moravam próximo da capital portuguesa. Na ocasião, Peter, que jogava pelo Sporting, conta que estava com a mãe, Inger, e a irmã em um endereço que poucos sabiam, mas que seu pai conseguiu achar. Em uma determinada noite, o então jogador foi surpreendido.
“Quando abri a porta da minha casa em Cascais, o meu pai estava na varanda”, conta o dinamarquês, de 57 anos.
“Eu iluminei seu rosto com uma tocha e perguntei: ‘O que você quer?’ Meu pai sorriu: ‘Minha família, minha família.'”, relembrou.
“Eu levantei minha voz. ‘Que diabos você quer? Você não é bem-vindo. Ninguém quer vê-lo aqui. Vá para casa, vá para casa.'”, continuou.
“Acabei batendo a porta na cara dele. Com força. Minha irmã estava no corredor e minha mãe na cozinha”.
“Meu coração estava na minha garganta e meu estômago doía de raiva e dor. É a pior coisa que já fiz na minha vida.”, completou o ex-goleiro que também atuou pelo Aston Villa e Manchester City antes de se aposentar em 2003.
Schmeichel contou no livro também que o pai conseguiu vencer a batalha contra o alcoolismo e que conseguiu viver bem por mais duas décadas.
“Papai viveu mais 20 anos, 20 anos bons. No final [da vida], ele não estava bem”, avaliou.
“Mas ele viveu até quase 86 anos e estava feliz com suas últimas décadas.”
Pai espião
Apesar de ser uma pessoa pública e ídolo do Manchester United, Peter não dava mostras de ter tantos segredos em sua vida particular. Além do sofrimento por conta do vício do pai em álcool, ele revelou que o polonês foi forçado a espionar para a Polônia durante a Guerra Fria com a condição de conseguir a permissão de mudar-se para a Dinamarca com a família.
“A única maneira de sair do país era cooperar com o serviço de inteligência polonês”, revela o ex-goleiro.
Mesmo não tendo sido incorporada pela então União Soviética, a Polônia perdeu boa parte da sua independência após o final da II Guerra Mundial e sofreu algumas restrições do comando soviético.
“Eles o enviaram para cursos de espionagem em Varsóvia, onde aprendeu técnicas para trabalhar disfarçado em ambientes estrangeiros”, explicou o ex-goleiro.
“Eles deram a ele uma lista de contatos e julgaram que ele finalmente estava pronto. ‘Você pode ir para Copenhague’, eles disseram, ‘mas você tem que espionar os dinamarqueses.”, finalizou.