No dia em que completou 21 anos, Gabriel Santos venceu os 100 metros livre no Troféu Maria Lenk e garantiu vaga no Mundial da Hungria, mês que vem. A vitória no dia do aniversário não foi coincidência. O tempo de 48s11, terceiro melhor do mundo em 2017, foi a sua entrada simbólica na maioridade da natação. E com uma chancela de peso: a do campeão olímpico Cesar Cielo, seu parceiro de treinos.

Em março, após retornar às piscinas, o campeão olímpico dos 50m livre afirmou que um de seus objetivos é fazer com que Gabriel e Pedro Spajari sejam os grandes velocistas da natação brasileira no futuro.

Ao deixar para trás Marcelo Chierighini (48s76) e Cesar Cielo (48s92) na prova mais nobre da natação, Gabriel completou uma série de grandes feitos. No ano passado, ele foi uma das grandes surpresas do mesmo Maria Lenk ao melhorar seu tempo em quase um segundo e bater 48s84. Com isso, conquistou uma vaga nos 4×100m livre masculino, quinto lugar na Olimpíada do Rio. Depois do fracasso nos Jogos, Gabriel venceu o Troféu José Finkel e o Open de Palhoça (SC).

Pedro Spajari também está no grupo restrito que nada os 100m em menos de 49 segundos. Ele chegou a bater um recorde mundial quando ainda era júnior (48s87), mas agora está na etapa de ajuste de treinos. Está fora deste Mundial.

O técnico Alberto Pinto da Silva, o Albertinho, mostra cautela. “Pela história e pela formação de outros atletas, a gente não gosta de projetar. Aposto que o Gabriel continue assim, mas tem muito a melhorar ainda.”

Albertinho busca na memória um exemplo para sua tese. Em 2005, o Brasil era representado no Mundial de Indianápolis por nadadores que se tornariam protagonistas, como Thiago Pereira e Cielo. Mas a grande aposta era Guilherme Guido. Embora tenha conseguido alguns recordes, Guido perdeu dois Mundiais entre os 17 e 20 anos e viu seu rival, Cesão, tornar-se estrela.

Cielo, Spajari e Gabriel treinam juntos em São Paulo. O relacionamento dos novatos com o veterano é uma via de mão dupla. Gabriel ganhou milésimos de segundo só por corrigir a posição da cabeça, empurrando o queixo para dentro, o que traz maior estabilidade. Dica de Cielo. Por outro lado, o grupo “puxa” o veterano. “Nadadores não têm patente. Um não quer perder para o outro”, admite Albertinho.

Esse duelo entre amigos foi uma estratégia definida quando Cesar Cielo foi convidado a voltar ao Pinheiros em fevereiro. Seria também um mentor. No revezamento, por exemplo, ele deve se manter nos 48s, base para que Gabriel Silva e Marcelo Chierighini busquem a medalha.

COM A PALAVRA, CESAR CIELO

O Gabriel Santos e o Pedro Spajari foram chaves importantes para a minha escolha de voltar a nadar “pelo” Pinheiros e também “no” Pinheiros, em São Paulo. Eu tinha decidido que gostaria de voltar a nadar lá, por ser sócio e por ter a oportunidade de levar o meu filho, Thomas, para a escolinha do Pinheiros. Com isso, eu poderia ter uma nova interação com o clube, uma vez que estou morando em São Paulo agora.

Tomei a decisão de conversar com os dirigentes do clube quando eu vi que o grupo tinha o Spajari (Pedro) e o Gabriel entre os nadadores. Isso facilitou minha decisão de voltar, pelo desafio que sabia que ia ter de nadar com eles. É um desafio que se apresenta para mim de várias formas.

A primeira delas é uma motivação pessoal. Quero tentar ajudar os meninos diretamente, uma coisa que eu ainda não havia feito na minha carreira. Passar um pouco da minha experiência, dividir com eles coisas que nunca dividi com ninguém que compete comigo. A segunda razão era o desafio do treino diário. Eu sabia que eles iriam querer – como querem – ganhar de mim todos os dias. Sabia que isso exigiria o máximo de mim também. Na minha cabeça isso fazia sentido.

Acho importante ter os últimos dois ou três anos da minha carreira para ajudar essa molecada, antes de eu “pendurar a sunga” e encerrar minha vida profissional. Ao mesmo tempo, queria voltar com um desafio bacana para ter vontade de treinar e de nadar mais rápido. A motivação e a vontade que esses meninos demonstram em todas as atividades me ajuda, diariamente, a superar as dores e as dificuldades do treinamento.