O manifesto de fundação do Aliança pelo Brasil, partido lançado no último mês pelo presidente Jair Bolsonaro e dissidentes do PSL, expõe o lado mais conservador do núcleo duro do Planalto. Com uma mistura de ideias nacionalistas e religiosas, com pontos do conservadorismo americano e saídas populistas, o texto foi escrito por Felipe Cruz Pedri, um assessor desconhecido da Casa Civil, com a colaboração do assessor de assuntos internacionais da Presidência, Filipe G. Martins, e do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).

Em sete páginas, o documento repete o mantra do escritor e “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho de combate ao “globalismo”, repudia o aborto sob todas as suas formas e defende o resgate aos “patriotas do passado, do presente e do futuro, unidos por um vínculo moral e de lealdade à pátria”.

Os pontos são encontrados nas postagens de Martins nas redes sociais, onde é um dos principais influenciadores de tropas olavistas no Twitter. O texto é dividido em cinco capítulos: respeito a Deus e à religião; respeito à memória, à identidade e à cultura do povo brasileiro; defesa da vida, da legítima defesa, da família e da infância; garantia da ordem, da representação política e da segurança; e defesa do livre mercado, da propriedade privada e do trabalho.

Próximo aos irmãos Arthur e Abraham Weintraub, Pedri chegou ao Planalto pelas mãos do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Fiel à cartilha olavista, o assessor costuma mirar na agenda “esquerdista”, em debates de gênero e nas Organizações das Nações Unidas (ONU), vista por ele como uma das grandes disseminadoras do “globalismo”. É dele a construção religiosa no programa do Aliança que diz que “a relação entre esta Nação e Cristo é intrínseca, fundante e inseparável”.

A mistura entre religião e política é uma das principais teses defendidas pela nova legenda. “O partido toma como seus os valores fundantes do Evangelho e da Civilização Ocidental ciente de que o povo brasileiro acredita que Deus é o garantidor do verdadeiro desenvolvimento humano”, diz outro trecho do programa. Pedri escreveu a maior parte do documento que ainda passou pela mãos do advogado Admar Gonzaga, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, que colaborou na elaboração do estatuto do partido e discutiu a base ideológica da nova legenda, é defensor da inclusão da religião dentro da estrutura formal da política. O parlamentar é descendente do último chefe de Estado brasileiro que governou sem a separação da Igreja do Estado, o imperador Dom Pedro II. “É de fato o único partido conservador. Não havia um partido de direita estatutária que colocava em seu estatuto a religião como nós colocamos. O Aliança vem suprimir essa lacuna”, afirmou.

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A digital de Martins aparece no primeiro parágrafo do manifesto. “Consciente de sua identidade, o povo inteiro se move, escolhendo seus próprios caminhos, na luta contra a injustiça e a tirania, para libertar-se do jugo da mentira por meio do conhecimento da verdade, cujo autor é Deus, que dotou todos os homens de direitos inalienáveis e fundamentais.” Foi Martins quem chancelou Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores e aproximou o clã Bolsonaro do estrategista conservador americano Steve Bannon. Ele é um dos poucos no Planalto que consegue transitar bem entre os três filhos do presidente.

Para o Aliança pelo Brasil ser registrado oficialmente e poder disputar eleições, ainda será necessária a coleta de quase 500 mil assinaturas, em pelo menos nove Estados. O prazo para que o partido seja homologado a tempo de concorrer nas eleições municipais do ano que vem é apertado e termina em março. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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