O sinal dos tempos para que o grupo que jamais foi desativado voltasse a estúdio veio depois de uma apresentação no evento Calorada da USP, em 2012. Assim que desceram do palco, os jovens estudantes da Universidade de São Paulo os cercaram: Quem eram? Como poderiam encontrar seus discos? Ah, não eram eles que cantavam no passado? Quem era esse Itamar Assumpção?

Imediatamente, Lepetit começou a configurar seu projeto de retorno. Mandou mensagens e fez ligações aos amigos e passou a receber as letras de volta. A facilidade de se trabalhar comprovava o ecumenismo de uma linguagem que, ao mesmo tempo em que soava complexa, parecia caber em qualquer lugar.A existência da batizada Vanguarda Paulistana, com direito a QG armado no teatro Lira Paulistana, em Pinheiros, não pode ser caracterizada como um movimento por não haver engenharia por trás. Seria mais o contrário, um antimovimento de uma turma disposta a fazer a luta mais inglória e comercialmente suicida de todas: a de brigar contra um sistema em uma era em que não havia planos B e que não existia o brinquedinho revolucionário que o mundo conheceria como internet.

Sem gravadoras, cabia aos músicos criar suas próprias empresas e gerenciar suas carreiras. Os selos independentes lançariam seus materiais, mas pagariam o preço ao não contarem com uma distribuição nem próxima do razoável.

A história se repetiria anos depois, em um contexto bem diferente. Da mesma forma com que o Premeditando o Breque cruzou propósitos com o Rumo, que Arrigo Barnabé entendeu-se com Ná Ozzetti ou que o paulista de Tietê criado em Londrina (PR), Itamar Assumpção, cruzaria com o Isca de Polícia (a junção do próprio Isca já seria fruto do milagre dos encontros de seres que vibravam na mesma sintonia), músicos brasileiros com ideias similares se uniriam sem arquitetura em São Paulo para a criação de um novo cenário. “Vejo que essa geração à qual eu pertenço faz muita troca com a geração anterior. Músicos consagrados gravam com os mais novos”, diz a cantora Tulipa Ruiz, filha do guitarrista Luis Chagas.

O saxofonista Thiago França, importante desenhista de uma sonoridade livre que caracteriza muitos trabalhos da música contemporânea de São Paulo, já falou, em recente entrevista ao Estado, sobre sua sensação de alívio ao sair de Minas Gerais para encontrar em São Paulo músicos que pensavam como ele. Sai tudo tão redondo que parece mesmo movimento. E, no sentido mais puro da palavra, é isso que é.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.