É permitido renomear uma rua em Israel com o nome de uma diva egípcia? O prefeito de Haifa, terceira cidade do país, autorizou a ideia e causou uma polêmica com aqueles que consideram Umm Kalzum, lenda da música árabe, uma “inimiga” do Estado hebreu.

Apelidada de “Estrela do Oriente”, a cantora desenvolveu sua carreira entre as décadas de 1920 e 1970 e sua voz é ouvida ainda hoje em todo o mundo árabe, assim como em Israel.

Entre seus admiradores estão os árabes israelenses, descendentes dos palestinos que permaneceram em suas terras quando o Estado hebreu foi criado em 1948, e que representam 20% da população do país.

Em Haifa, representam 10% dos 300.000 habitantes da grande cidade do norte de Israel.

Para destacar a diversidade da cidade, “que representa um modelo de coexistência entre judeus e árabes”, a prefeita judia Einat Kalisch-Rotem decidiu em meados de julho renomear uma rua com o nome de Umm Kalzum.

Para o vereador Raja Zaatreh, o fato de sua cidade homenagear esta artista é uma forma de reconhecer “a presença e as raízes” locais da comunidade árabe israelense, que muitas vezes se considera vítima de discriminação social.

Mas a ideia de ter uma “rua Umm Kalzum” em Haifa, inclusive em um bairro árabe, não agradou a todos.

– “Vergonhoso” –

 

Nas colunas do jornal local “Kol Po”, o deputado do Likud (direita), Ariel Kallner, disse estar “triste” pela decisão de celebrar uma artista “que pediu a destruição do Estado judaico”. Kallner garantiu que encontrará “meios para proibir a mudança de nome”.

Muito ativo nas redes sociais, o filho do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Yair, tuitou imediatamente: “Vergonhoso e louco”.

Umm Kalzum, nascida em 1898, interpretava melodias sentimentais e religiosas, mas também patrióticas.

O pesquisador em língua e cultura árabes da Universidade Ben Gurion de Neguev (sul), Jonathan Mandel, diz que a questão “Umm Kalzum” não pode ser reduzida a uma oposição entre judeus e árabes porque “a quarta pirâmide do Egito”, outro de seus apelidos, também é muito popular entre os judeus sefardistas, ou seja, oriundos de países árabes.

Para Ariel Cohen, músico israelense sefardita, “Umm Kalzum não é uma inimiga”: É verdade que ela interpretou canções patrióticas quando Israel e Egito estavam em guerra – antes de assinarem um acordo de paz em 1979 -, mas é “natural para os cantores cantar músicas patrióticas em tempos de guerra”, justifica.