Idealizador do Brexit deixa cargo no governo Johnson em dezembro

LONDRES, 13 NOV (ANSA) – O idealizador do Brexit e um dos conselheiros mais importantes do governo de Boris Johnson, Dominic Cummings, deixará sua função no Gabinete “antes do Natal”, informou nesta sexta-feira (13) a emissora “BBC”, citando uma fonte da equipe do premiê. A informação também foi confirmada pelos jornais “The Guardian” e “The Independent”.   

A notícia chega após a revelação de uma briga por poder dentro de Downing Street por diversos grupos que fazem parte do governo e que levou, nesta quinta-feira (12), ao anúncio de demissão do diretor de comunicação, Lee Cain. O representante era um dos “mais fiéis” a Cummings e teria se oposto à decisões de Carrie Symonds, atual namorada de Johnson.   

Cummings é um eurocético de longa data e é apontado pela mídia britânica como o principal idealizador da campanha “Leave”, no referendo em que os britânicos optaram por deixar a União Europeia em 2016.   

O assessor era o responsável pela publicação da campanha digital nas redes sociais – apontada, inclusive, como uma grande disseminadora de fake news – e causou polêmica ao se negar a dar informações para a Justiça britânica na investigação sobre as notícias falsas à época. Ele ainda foi acusado formalmente pela Comissão Eleitoral de burlar a legislação e gastar mais do que o permitido na campanha.   

Além disso, o conselheiro foi o criador do slogan “Get Brexit Done” da campanha dos conservadores em 2019, que culminou com Johnson assumindo o cargo de primeiro-ministro.   

Na tradicional coletiva diária, um dos porta-vozes de Downing Street, questionado sobre a matéria da saída do assessor, não confirmou nem desmentiu a reportagem, dizendo que o texto “fala por si só”.   

No entanto, quando foi perguntado se a saída teria a ver com um possível “abrandamento” da linha de negociação britânica com a União Europeia para saída definitiva, que ocorre em 31 de dezembro, o representante foi categórico e disse que isso “é uma informação falsa” e que “a posição do governo sobre as condições sobre um futuro acordo de livre comércio é absolutamente imutável”.   

Tudo isso ocorre no momento em que o Reino Unido enfrenta uma pesada segunda onda da pandemia do coronavírus Sars-CoV-2, com milhares de casos de infecções diárias, além de centenas de mortes.   

– Negociações Brexit econômico: Apesar da negativa do porta-voz, as negociações entre britânicos e representantes do bloco europeu continua “intensa”, segundo definiu a Comissão Europeia.   

As conversas deveriam ter chegado a uma conclusão em 15 de outubro, mas a falta de entendimento entre as partes fez com que as reuniões fossem prorrogadas, ao menos, até o fim da próxima semana.   

O que está na mesa de negociações são pontos que envolvem as questões econômicas e as fronteiras entre a Irlanda (que faz parte da UE) e a Irlanda do Norte (que é do Reino Unido), além de questões judiciais.   

O Brexit político, ratificado pelo Acordo de Retirada, já está em vigor desde fevereiro, mas as partes haviam definido o prazo de 31 de dezembro deste ano para fazer o “divórcio” definitivo.   

Porém, já não bastassem os problemas nas negociações, o governo de Johnson apresentou uma proposta – aprovada pela Câmara dos Representantes – que muda cláusulas do acordo já ratificado. A medida fez com que a União Europeia abrisse um processo contra os britânicos por quebra das leis internacionais.   

Segundo fontes das negociações, os principais entraves do acordo de livre comércio afetam a Política Comum de Pescas, que permite que países europeus usem as águas territoriais de outro Estado-membro com fins de pesca industrial; a rejeição britânica ao chamado “level playing field”, um compromisso para garantir o alinhamento das normas para permitir uma concorrência leal e justa; e a questão de submeter o Reino Unido às decisões da Corte de Justiça Europeia. (ANSA).