Mesmo em baixa nas duas últimas sessões da semana, o Ibovespa conseguiu acumular leve ganho no período, o primeiro desde o trecho entre 17 e 21 de julho, quando havia avançado 2,13%. De lá para cá, foram quatro perdas semanais, sequência interrompida nesta sexta-feira por ganho de 0,37% desde a última segunda-feira.

Os ajustes negativos de quinta e sexta foram menores do que a alta que os precedeu, na terça (+1,51%) e quarta-feira (+1,70%), após um início de semana ainda em baixa, de 0,85%.

Nesta sexta-feira, a referência da B3 caiu 1,02%, a 115.837,20, sem conseguir acompanhar a melhora ao longo da tarde em Nova York, onde os três principais índices de ações se firmaram em alta e subiram entre 0,67% (S&P 500) e 0,94% (Nasdaq) na sessão.

Nesta sexta, as principais ações do Ibovespa voltaram a operar em bloco no negativo, com destaque ainda para o setor financeiro, onde as perdas entre os grandes bancos chegaram a 1,58% (Itaú PN) no fechamento do dia, também ruim para Petrobras (ON -0,79%, PN -0,68%), apesar do avanço acima de 1% para o Brent nesta sexta-feira. Vale ON chegou a ensaiar leve alta, mas fechou o dia em baixa de 0,21%, avançando 1,39% na semana, mas ainda cedendo 7,96% no mês, em meio a preocupações quanto ao ritmo de atividade econômica na China. No ano, Vale ON cai 26,81%.

Em agosto, mês em que esteve bem mais conectado ao cenário externo do que ao doméstico, o Ibovespa cede até aqui 5,01%. Do dia 18, sexta-feira passada, para cá, o índice tem mostrado estabilização, após a série histórica de 13 perdas diárias, entre 1º e 17 de agosto, a mais longa desde o começo de 1968. Apesar de extenso, o grau da correção foi discreto, com o Ibovespa tendo recuado 5,71% no mês até o dia 17. Desde o dia seguinte, 18, em seis sessões, mostrou três altas e três baixas, com a desta sexta – mas com ajustes negativos que vinham se mantendo inferiores a 1%, por sessão.

Assim, o índice se lateraliza, tendo suportado o teste dos 114 mil pontos – na mínima do intervalo, no dia 21, foi a 114.066,51 pontos no intradia, menor nível desde 6 de junho, então a 112.695,60 pontos durante aquela sessão. Nesse contexto, o giro financeiro voltou a se enfraquecer, a R$ 18,7 bilhões nesta sexta-feira, em que o índice da B3 oscilou dos 115.396,62 aos 117.252,11, saindo de abertura aos 117.025,02 pontos. No ano, o Ibovespa sobe 5,56%.

Na ponta do índice nesta última sessão da semana estiveram São Martinho (+4,02%), SLC Agrícola (+1,89%) e Raízen (+1,61%), com Pão de Açúcar (-7,23%), CVC (-6,58%) e MRV (-5,58%) no lado oposto.

Na agenda doméstica desta sexta-feira, os investidores tomaram nota da prévia da inflação oficial de agosto, o IPCA-15, em leitura acima do esperado, e, em menor medida, do IDP, os investimentos diretos no País, que vieram em julho no menor nível para o mês desde 2018, a US$ 4,244 bilhões, apesar da melhora, na margem, em relação a junho. A fraca leitura em comparação a julho de 2022 (US$ 7,2 bilhões) vem no momento em que se monitora de perto os efeitos, sobre a conjuntura doméstica, de um cenário externo ainda desafiador, com juros elevados nos Estados Unidos e na zona do euro e grande incerteza quanto à performance da China.

“O mercado já abriu hoje em ‘risk off’ mostrando aversão a risco, com os dados do IPCA-15, acima do esperado para o mês. Os DIs em alta já na abertura descartam agora em parte a possibilidade de 0,75 ponto porcentual de corte na Selic em dezembro, que vinha sendo especulada mesmo com o Copom tendo sinalizado, como cenário-base, três cortes de meio ponto até o fim do ano”, diz Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos.

Na agenda externa, a atenção esteve voltada, também desde a manhã, ao aguardado discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio anual de Jackson Hole, nos Estados Unidos. “O discurso do Powell, a meu ver, foi um pouco mais ‘hawkish’, no sentido de combate à inflação, do que os outros, mas a primeira percepção do mercado não foi essa. A princípio, a reação foi muito boa, mas depois os juros voltaram um pouco. Ele bateu muito na tecla de que o PIB está acima do potencial, e que as evidências de algum relaxamento no mercado de trabalho ainda não são o suficiente para fazer com que a inflação convirja para a meta de 2% ao ano nos EUA”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B. Side Investimentos.

Para Marcos De Marchi, economista-chefe da Oriz Partners, o discurso de Powell foi “bem equilibrado e teve um tom muito parecido com declarações recentes”. O economista destaca “o fato de ter sido dito que os juros reais da economia, de acordo com várias estimativas, estão bem acima do nível considerado neutro”. “É um sinal de que mais altas de juros, a partir daqui, terão que acontecer em cima de dados econômicos mais fortes, especialmente aqueles relacionados ao mercado de trabalho, que seguem mostrando aumentos reais de salários e demanda robusta por mão de obra”, acrescenta De Marchi.

Segundo ele, o discurso mostrou que ainda há “muita incerteza, nesse momento, na condução da política monetária”. “Nesse sentido, as declarações sugerem que a manutenção dos juros em patamar elevado por um período prolongado é preferível a subir ainda mais a taxa básica nos EUA”, observa o economista da Oriz.

Após a fala de Powell, no fim do dia veio o pronunciamento de outra autoridade monetária muito relevante, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que apontou que “apesar dos progressos, a luta contra a inflação ainda não está vencida”, defendendo que os juros sejam mantidos em níveis restritivos pelo tempo necessário para que a inflação convirja para a meta.

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira não trouxe alterações ante a pesquisa da semana passada, com o mercado demonstrando otimismo sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo. Entre os participantes, a previsão de alta para o Ibovespa na próxima semana manteve a fatia de 62,50%, enquanto a expectativa de estabilidade repetiu o porcentual de 37,50% da semana passada. Nenhuma das respostas indica queda.