08/11/2024 - 18:37
Passadas duas semanas desde o segundo turno das eleições municipais, o mercado segue à espera – em prazo ainda indefinido – de que o governo corrija a trajetória das contas públicas para que o arcabouço fiscal venha a ser cumprido. E a falta de novidades ao fim de mais uma semana sem anúncio de cortes de gastos manteve os ativos brasileiros na defensiva, tanto na Bolsa como também no câmbio e na curva de juros doméstica. Assim, o Ibovespa seguiu em baixa pelo terceiro dia, e em grau superior ao das duas sessões anteriores. Hoje, caiu 1,43%, aos 127.829,80 pontos, cedendo a linha dos 127 mil na mínima do dia, aos 126.972,83, o que o fez convergir, no intradia como no fechamento, para níveis do começo de agosto.
Em porcentual, foi a maior perda diária para o Ibovespa desde 20 de setembro (-1,55%). No pior momento da sessão, quando caía pouco mais de 2%, estava a caminho de seu maior tombo desde 21 de setembro de 2023, quando havia cedido 2,15% naquele fechamento. Na semana que ora chega ao fim, o Ibovespa recuou 0,23%, após perdas de 1,36% e de 0,46% nos intervalos precedentes. No mês, o índice da B3 cai 1,45%, colocando a perda do ano a 4,74%. O giro desta sexta-feira se manteve reforçado como nas últimas sessões, chegando hoje a R$ 30,0 bilhões.
Na B3, as perdas de Vale ON, a ação de maior peso no Ibovespa, foram a 4,61% no fechamento, tendo chegado a ceder mais de 5% durante a sessão, devolvendo o ganho em torno de 3,5% do dia anterior. O ajuste do índice foi relativamente contido em direção ao encerramento, com a melhora, do meio para o fim da tarde, observada em Petrobras (ON +1,82%, PN +1,89%), no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre e ao anúncio da distribuição de dividendos ordinários.
Dessa forma, o desempenho da estatal foi o ponto favorável, entre as ações de maior liquidez e peso no Ibovespa, em sessão marcada também por pressão no setor financeiro, com a perda em Itaú PN a 1,57% e em Bradesco a 1,07% (ON) e a 1,10% (PN) no fechamento. Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque nesta sexta-feira para Alpargatas (-7,90%), Lojas Renner (-6,14%) e Usiminas (-6,02%). No lado oposto, Embraer (+7,47%) após o balanço trimestral, à frente de Natura (+2,90%) e de PetroReconcavo (+2,62%) no encerramento do dia.
Ainda mais do que os desdobramentos externos que não contribuem para emergentes como o Brasil – como a recente eleição do protecionista Donald Trump para mais um mandato na Casa Branca -, a atenção dos investidores segue concentrada em quanto ficará o pacote de cortes de gastos, e quando será anunciado – após a frustração de que algo emergisse tão logo passasse o segundo turno das eleições municipais. Frustrado o prazo de espera, o foco está no valor dos cortes, e qualquer anúncio abaixo de R$ 30 bilhões tende a decepcionar.
Nesta sexta-feira, o relato do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja compreender “a redação de cada medida” do plano de corte de gastos proposto pela equipe econômica indica que o anúncio da decisão não esteja tão próximo. E pela rede social X, aguçando os ruídos, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), fez uma série de críticas ao mercado financeiro, argumentando que não é “cortando benefícios do povo” para “pagar a conta” do aumento da taxa de juros que a inflação será combatida. Gleisi pediu que o Banco Central intervenha no mercado de câmbio.
“Está errada essa ciranda, e o presidente Lula tem toda razão em criticar e agir com cautela e responsabilidade diante de toda essa pressão. Foi eleito pelo povo e não pelo mercado”, acrescentou a presidente do PT. Durante a sessão, o dólar à vista foi negociado na máxima do dia a R$ 5,7908 e, no fechamento, mostrava alta de 1,07%, a R$ 5,7359. O dia foi de avanço também para a curva do DI.
Por outro lado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou hoje, em entrevista à CNN Brasil, que o presidente Lula tomará a decisão sobre as áreas em que realizará cortes levando em consideração o que o ministro da Fazenda diz.
“Mais um dia difícil para a Bolsa brasileira, na contramão das bolsas americanas, que andaram hoje. E a contramão reflete novo adiamento desse pacote fiscal, que está virando uma grande novela mexicana”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. Em Nova York, os ganhos na sessão desta sexta-feira ficaram em 0,09% (Nasdaq), 0,38% (S&P 500) e 0,59% (Dow Jones), índices que avançaram entre 4,61% (Dow Jones) e 5,74% (Nasdaq) na semana, e sobem até 6,59% (Nasdaq) no mês.
“Cada bate-boca noticiado pela imprensa, cada ida e volta, tem gerado estresse, o que resulta em diminuição de posições em Bolsa”, acrescenta a analista, referindo-se indiretamente ao relato de que os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Trabalho, Luiz Marinho, teriam se desentendido em uma das reuniões de discussão sobre os cortes, diante do presidente Lula. Como fator externo, ela menciona certa decepção quanto ao pacote de estímulos na China, o que prensou as ações da Vale nesta última sessão da semana.
“O fraco estímulo chinês gerou uma queda nas commodities metálicas, que pressionou o Ibovespa abaixo”, destaca também Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, mencionando que o pacote de estímulos à maior economia asiática, mercado fundamental para a demanda global por matérias primas como o minério de ferro, ficou “aquém das expectativas”.
Para Bruna Centeno, advisor da Blue3 Investimentos, os dois fatores definidores da sessão também foram a decepção com a envergadura dos estímulos na China e, por aqui, a expectativa para o anúncio do pacote fiscal que “mais uma vez tomou o dia”, contribuindo para a alta do dólar e a abertura da curva de juros nesta sexta-feira. “Ânimos ainda não se acalmaram, e continuam a penalizar os papéis.”
Ainda assim, o mercado financeiro se mostra mais otimista quanto ao desempenho das ações no curtíssimo prazo, indica o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Nenhum dos participantes disse esperar queda para o Ibovespa na próxima semana, enquanto para 83,33% o índice terá ganho. Os que preveem estabilidade são 16,67%. Na pesquisa anterior, a expectativa de alta tinha fatia de 62,50%; a de variação neutra, de 25,00%; e a de queda, de 12,50%.