O mercado de ações dividiu as atenções entre as influências externas e os embaraços da crise política interna nesta terça-feira, 27. A denúncia contra o presidente Michel Temer feita ontem pela Procuradoria-Geral da República foi o principal assunto do dia e, apesar de já ser mais que esperada, reforçou o desconforto do mercado diante da falta de previsibilidade do cenário doméstico.

Pela manhã, o Índice Bovespa chegou a subir 0,38%, apoiado no bom desempenho das commodities e na justificativa de que a denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot já estava precificada. Mas o fôlego foi curto e a tendência de baixa se consolidou no início da tarde. O indicador chegou a cair 0,98% na mínima do dia, logo no início do pronunciamento de Temer. Ao final dos negócios, o desacelerou o ritmo e fechou em baixa de 0,82%, aos 61.675,46 pontos.

Antes da fala de Temer, o mercado especulava sobre o teor do pronunciamento. O presidente optou por manter o tom austero na defesa das acusações e buscou desqualificar Rodrigo Janot. Além de combater o procurador-geral, fez ataques a um ex-funcionário do Ministério Público e também ao delator Joesley Batista, dono da JBS. Temer disse ainda que “reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação”. “Se alguém cometeu um crime e eu o conheço, logo sou também criminoso”, disse.

Para o mercado, mais importante que a situação de Temer à frente da Presidência da República é a condução das reformas. Mas quanto mais obstáculos surgem à frente do presidente, maior o temor de adiamento ou desidratação das reformas estruturais. Mais cedo, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, afirmou que a situação fiscal do Brasil continua “gravíssima”. Em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso que analisa a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018, o ministro disse que há um cenário de fragilidade fiscal no País que tem levado a déficits elevados continuados.

O risco político foi mais evidente no desempenho de ações de controle estatal. As ações da Petrobras, por exemplo, não conseguiram acompanhar a alta dos preços do petróleo no mercado internacional e fecharam com perdas de 0,76% (ON) e 0,49% (PN). Banco do Brasil ON foi além, com perda de 3,23%. Eletrobras PNB, por sua vez, caiu 1,64%.

A queda do Ibovespa foi em parte amortecida pelo bom desempenho das ações da Vale. Os papéis tiveram alta de 1,64% (ON) e 1,83% (PNA), influenciados pela forte alta do minério de ferro na China. Com isso, subiram também CSN ON (+5,67%) e Bradespar PN, acionista da Vale (+3,07%), as duas maiores altas do Ibovespa.