O Ibovespa chegou ao fim da sessão e do mês estendendo as perdas iniciadas em julho, acumulando nesses dois últimos meses retração de 6,32%, em intervalo no qual o otimismo sobre a recuperação econômica e a relativa melhora das contas públicas deram lugar, rapidamente, a sinais de deterioração, puxada por perspectiva pior para o fiscal, pelo avanço da inflação e por ruídos políticos que se avolumaram, desembocando em crise institucional – situação que se agravou de forma a levar entidades empresariais a esboçar “manifestos” em defesa da harmonia entre Poderes, divulgados ou não, às vésperas do 7 de setembro.

Nesta terça-feira, moderando a correção perto do fim do dia, o Ibovespa fechou em baixa de 0,80%, aos 118.781,03 pontos, acumulando perda de 2,48% em agosto, a qual, no pior momento do mês, havia chegado a superar o recuo de 3,94% colhido ao longo de julho.

No ano, o Ibovespa voltou a mostrar nesta terça perda, de 0,20%, e retração de 1,57% acumulada até aqui na semana, em duas sessões negativas após o entusiasmo da última sexta-feira, desde o exterior, com o discurso ‘dovish’ do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio anual de Jackson Hole. Vindo de duas sessões de volume enfraquecido, o giro financeiro foi a R$ 42,5 bilhões neste 31 de agosto.

Na mínima, o Ibovespa chegou nesta terça aos 117.910,97 pontos, à tarde, saindo de máxima pela manhã aos 120.156,94 pontos, com abertura a 119.737,95 pontos. No pior momento do mês, aos 114,8 mil pontos no intradia de 19 de agosto, tocou o menor patamar desde 29 de março. O nível de fechamento, nesta terça, foi o pior desde o último dia 26.

“Há cinco fatores que explicam as coisas, como temos visto desde julho: a variante Delta e a ameaça de outras variantes no futuro, que podem afetar a cadeia de suprimentos; a regulação na China, com o presidente Xi Jinping interferindo diretamente em setores da economia para consolidar ainda mais o poder; o barulho sem fim em Brasília; o enfraquecimento da confiança do consumidor americano, frustrado com os aumentos nos ‘big ticket items’, como casas e veículos; por fim, a incerteza ainda grande sobre o Fed e o ‘tapering’ – dependendo da leitura do payroll desta sexta-feira, se for forte, pode levar o Fed a fazer o anúncio em setembro, sobre o começo e o prazo (de efetivação da retirada de estímulos)”, diz Scott Hodgson, gestor de renda variável na Galapagos Capital.

“Há um imbróglio complexo entre política e fiscal, um não desenrolando o outro, e com STF e passeata (de 7 de setembro) no meio. E as reformas, sem avanço, assim como a definição sobre como ficarão o futuro Bolsa Família e o pagamento de precatórios. O exterior segue positivo e líquido, com o S&P 500 renovando por 12 vezes máximas históricas ao longo de agosto. Hoje, tivemos dados da China que não ajudaram, mas está faltando também um ‘trigger’ que leve o Ibovespa ao preço justo de 130 mil, para buscar, quem sabe, os 150 mil pontos. Há espaço para subir, tem gringo comprando por ‘valuation’, está barato”, diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vítreo.

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No período da tarde, o Ministério da Economia apresentou o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2022. Segundo a proposta, o teto de gastos, regra que limita o avanço das despesas à inflação, terá um crescimento de R$ 136,6 bilhões no próximo ano, e gasto total sujeito ao teto poderá chegar a R$ 1,61 trilhão no ano que vem.

A proposta considera o total de R$ 89,1 bilhões em despesas com precatórios, antes da solução que está sendo costurada pelos três Poderes para adiar uma parte dessa despesa, e não prevê nenhuma ampliação no Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil. Segundo a Economia, o Orçamento de 2022 destina R$ 34,7 bilhões ao programa social, o que seria suficiente para alcançar 14,7 milhões de famílias.

“O mercado mais uma vez estressado, também com o Orçamento, que parece que não para de pé, já bem próximo de deadline. O mercado segue preocupado com o fiscal: andamos, andamos, e sempre voltamos para o mesmo assunto, o perigo fiscal no Brasil e a discussão do Orçamento, que não para de pé, o que se reflete não só na Bolsa, mas também em estresse nos DIs”, diz Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos.

Nesta última sessão de agosto, leitura desfavorável sobre o nível de atividade na China manteve as ações de commodities sob pressão, com perda de 1,37% para Vale ON e de 3,92% para Petrobras PN – em dia negativo para o Brent e no qual o presidente Bolsonaro voltou a manifestar preocupação com o preço de combustíveis -, e recuo de até 4,99% (CSN ON) no setor de siderurgia. O efeito foi em parte contrabalançado pelo desempenho majoritariamente positivo do setor financeiro na sessão, recuperado no fechamento, com ganhos de 0,56% (Bradesco PN) a 1,57% (Unit do Santander) entre as maiores instituições.

Na ponta do Ibovespa, destaque para alta de 5,60% em Braskem, à frente de Copel (+4,11%) e de Hypera (+3,49%). Na face oposta, CSN (-4,99%), Americanas ON (-4,24%) e Petrobras PN (-3,92%).


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