O crescimento na produção da indústria tem como pano de fundo algum grau de melhora nas variáveis associadas à demanda doméstica, assim como uma ajuda do aumento das exportações. Por outro lado, apesar do início do ciclo de afrouxamento monetário, a taxa de juros ainda elevada prejudica setores mais ligados ao crédito, como as categorias de bens duráveis e bens de capital. A avaliação é de André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A indústria brasileira completou quatro meses seguidos de crescimento na produção, acumulando uma alta de 0,9%: agosto de 2023 (0,2%), setembro (0,1%), outubro (0,1%) e novembro (0,5%, a mais acentuada para essa época do ano desde 2020). A produção registrou a maior sequência de resultados positivos desde maio a novembro de 2020, quando avançava após o choque inicial provocado pela pandemia de covid-19.

“Há uma leitura melhor dos fatores conjunturais”, resumiu André Macedo. “Tem como pano de fundo algum grau de melhora nessas variáveis associadas ao mercado doméstico.”

Entre os elementos que melhoraram, o pesquisador menciona a evolução favorável do comportamento do mercado de trabalho, com mais trabalhadores ocupados e aumento da massa de salários em circulação na economia, e a inflação mais controlada, que também confere às famílias “algum ganho de renda disponível”. A inadimplência se mostra menor que no passado, mas o nível de endividamento permanece elevado, ponderou.

“O crédito permanece encarecido”, disse ele. “A taxa de juros ainda permanece em patamares elevados.”

Na passagem de outubro para novembro, os avanços na produção das indústrias extrativas (3,4%) e dos produtos alimentícios (2,8%) impulsionaram o desempenho positivo da produção industrial nacional no período.

“A gente está falando de dois segmentos que estão associados diretamente a exportações”, confirmou Macedo, acrescentando que o bom desempenho da balança comercial brasileira em 2023 também ajudou na melhora da indústria nacional como um todo. “É um fator importante a ser considerado ao longo do ano de 2023.”

No caso de alimentos, a produção avançou por cinco meses seguidos, de julho a novembro. “Tem questão da safra recorde, tem exportações, tem produtos identificados com a demanda doméstica”, enumerou Macedo.

Na direção oposta, a produção de bens de consumo duráveis segue afetada tanto pelo crédito caro quanto pela seca no Amazonas. A estiagem na região Norte, especialmente no Amazonas, prejudicou o acesso a matérias-primas, devido à característica de uso do modal fluvial na logística local, e algumas fábricas deram férias coletivas, relatou Macedo.

Entre os produtos impactados estão televisores, rádios, motocicletas, eletroeletrônicos e equipamentos de informática. Como consequência, a fabricação de bens duráveis acumulou uma perda de 9,7% nos últimos três meses, de setembro a novembro de 2023.

“A política monetária restritiva, com taxas de juros ainda elevadas, tem também impacto nas decisões de investimentos de empresários. Bens de capital acumulam perda de 4,7% nos últimos três meses”, acrescentou Macedo.