Apesar de a queda de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2016 ante o quarto trimestre de 2015 ter sido o melhor resultado nesta comparação desde os últimos três meses de 2014 (+0,2%), não houve melhora na atividade, disse nesta quarta-feira, 1º de junho, a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. “Melhora por enquanto não houve. Mesmo na margem, a taxa é negativa”, afirmou.

Segundo Rebeca, a conjuntura do primeiro trimestre de 2016 está muito parecida com a do último trimestre do ano passado. “Inflação e juros continuaram em patamar parecido”, disse. Por isso, apesar do número menos negativo na margem, não é possível dizer que a atividade mostrou reação.

“Não há uma melhora de taxas ‘espalhadas’. Continua o ‘espalhamento’ de taxas negativas pela economia como um todo”, disse a coordenadora.

Contenção de despesas

A contenção de despesas de consumo do governo continuou no primeiro trimestre de 2016, mas em menor ritmo do que no último trimestre de 2015, afirmou Rebeca Palis. Por isso, na prática, houve aumento nos gastos na passagem do trimestre, explicou.

Nos primeiros três meses deste ano, o consumo do governo cresceu 1,1% ante o último trimestre de 2015. “Realmente houve aumento de despesa do governo”, disse Rebeca.

“A retração continuou ocorrendo no primeiro trimestre (em relação a igual período de 2015), mas foi menor. O governo estava realmente fazendo uma contenção da despesa de consumo. Essa contenção continuou, mas foi menor do que no quarto trimestre (de 2015), que havia sido a mais forte da serie”, disse Rebeca.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2015, houve queda de 1,4% no consumo do governo nos três primeiros meses deste ano. A taxa é menos intensa do que o recuo de 2,9% no quarto trimestre de 2015 ante igual período do ano anterior.

Desligamento de térmicas

Sobre a ótica da produção, o setor de produção e distribuição de eletricidade, gás, água e esgoto representou o principal resultado positivo do primeiro trimestre de 2016, com alta de 1,9% em comparação com o quarto trimestre de 2015. Na comparação interanual, a alta chegou a 4,2%. A variação decorre do desligamento de novas térmicas no primeiro trimestre, o que diminuiu o custo de produção do setor.

“No primeiro trimestre houve desligamento de térmicas, assim como no 3º trimestre de 2015. Agora, com a continuidade desse desligamento, o custo de produção de energia ficou menor, quando comparado com o último trimestre”, explicou Claudia Dionisio, gerente de contas trimestrais do IBGE.

Segundo ela, também o desaquecimento da economia provocou uma retração no consumo industrial de energia, além de uma maior parada para manutenção de plataformas de petróleo.

Na comparação interanual, a alta de 4,2% é ainda mais expressiva, uma vez que no primeiro trimestre de 2015 todas as térmicas estavam acionadas para ajudar no fornecimento de energia. “Estamos comparando um trimestre inteiro com um custo bem maior de produção de energia”, completou.

Investimentos

Segundo os dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, o recuo de 2,7% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2015 foi o 10º trimestre consecutivo de queda nas Contas Nacionais Trimestrais, mas a menos intensa desde o quarto trimestre de 2014.

A FBCF é a operação das Contas Nacionais que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos correntes em ativos fixos, ou seja, bens produzidos factíveis de utilização repetida e contínua em outros processos produtivos por tempo superior a um ano sem, no entanto, serem efetivamente consumidos pelos mesmos.

Já as importações recuam há seis trimestres na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No primeiro trimestre, o recuo foi de 5,6%.

No caso das exportações, a alta de 6,5% foi a mais intensa desde o primeiro trimestre de 2015.

Serviços

Ainda segundo o IBGE, a queda de 0,2% no PIB de serviços no primeiro trimestre, ante o quarto trimestre do ano anterior, foi o quinto resultado negativo consecutivo. No entanto, o resultado foi o mais ameno desde o quarto trimestre de 2014, quando o PIB de serviços teve ligeira alta de 0,1%.

No primeiro trimestre do ano, o consumo das famílias também encolheu pelo quinto trimestre consecutivo, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. A queda foi de 1,7%.

Já o consumo do governo avançou 1,1%, o melhor desempenho desde o quarto trimestre de 2013, quando também aumentou 1,1%.

Taxa de poupança

Conforme os dados divulgados pelo IBGE, a taxa de poupança no primeiro trimestre de 2016 ficou em 14,3%. Já a taxa de investimento ficou em 16,9% no período.

Revisões

O IBGE revisou o resultado do PIB do quarto trimestre de 2015 ante o terceiro trimestre do ano passado para uma queda de 1,3%, contra recuo de 1,4% na leitura inicial. Ainda nos dados com ajuste sazonal, o órgão revisou o PIB do terceiro trimestre de 2015 ante o segundo trimestre do ano passado de -1,7% para -1,6%.

No segundo trimestre ante o primeiro trimestre de 2015, o recuo de 2,1% foi revisado para uma queda de 2,0%, apontou o IBGE. Já no primeiro trimestre do ano passado ante o quarto trimestre de 2014, houve revisão de -0,8% para -1,2%.