Os adeptos da inteligência artificial (IA) apostam nesta tecnologia para ajudar a humanidade a resolver problemas como o aquecimento global. Mas a realidade é que isso requer, acima de tudo, esforços humanos.

“Imagine que possamos perguntar à IA ‘Tenho um problema difícil, o que você faria em meu lugar?’ e ela respondesse ‘Você deve reestruturar este setor da economia e então…’ Não. É uma ilusão”, afirma Michael Littman, professor de ciências da computação da Universidade Brown, nos Estados Unidos.

Para ele, a inteligência artificial poderá ajudar a proteger o meio ambiente, melhorando a eficiência dos sistemas de produção, o que reduzirá o consumo de energia. “Mas não é só apertar um botão. Os humanos terão muito trabalho”, diz ele, que participa do festival de artes e tecnologia SXSW em Austin, no Texas.

Neste evento, a executiva da Microsoft Simi Olabisi promoveu os serviços em nuvem da empresa.

“A ferramenta Azure Language para call centers permite captar os sentimentos dos clientes – que podem, por exemplo, ficar irritados no início e muito gratos no final do atendimento – e reportar isto à empresa”, explicou ela na conferência “No cerne da revolução da IA: como a IA está capacitando o mundo”.

– “Super IA” –

A noção de inteligência artificial, com seus algoritmos capazes de automatizar tarefas e analisar grandes quantidades de dados, existe há várias décadas.

Contudo, adquiriu uma nova dimensão no ano passado com o sucesso do ChatGPT, a interface de IA generativa lançada pela Open AI, uma empresa financiada principalmente pela Microsoft.

Esta tecnologia, que produz textos, imagens e outros conteúdos em linguagem simples, suscita preocupações em termos de emprego ou fraude, mas também gera muito entusiasmo.

A OpenAI (além do Google, Meta, Amazon…) quer criar uma IA “geral” (AGI, na sigla em inglês) que funcione com base em programas “mais inteligentes que os humanos em geral”, sobretudo para “ajudar a elevar a humanidade”, segundo o seu diretor-executivo, Sam Altman.

Para Ben Goertzel, cientista que lidera a Fundação SingularityNET e a Sociedade AGI, estima que a ferramenta será lançada em 2029.

“Quando tivermos uma máquina que pense tão bem como um ser humano inteligente, levará apenas alguns anos até que a máquina pense mil vezes melhor, ou um milhão de vezes melhor, que um ser humano, porque poderá modificar seu próprio código-fonte”, disse ele durante a conferência “Como fazer com que a IA geral seja benéfica para evitar o apocalipse robótico?”.

Goertzel defende o desenvolvimento da IA geral dotada de “compaixão e empatia” e integrada a robôs humanoides “que se pareçam conosco”, para garantir o bom entendimento entre as futuras “super IA” e a humanidade.

– “Sementes de sabedoria” –

Para o fundador da Hanson Robotics, David Hanson, a IA poderia “ajudar a resolver problemas ambientais… Embora as pessoas provavelmente a utilizarão para criar algoritmos de negociações financeiras”, brincou.

Sua empresa projetou o robô humanoide Desdêmona, equipada com IA generativa, que também esteve presente no evento.

No entanto, Hanson teme as consequências potencialmente devastadoras de uma corrida generalizada à IA entre os países, mas observa que os humanos não esperaram que esta tecnologia aparecesse “para jogar a roleta existencial com armas nucleares” ou “causar uma extinção em massa”.

Talvez a IA geral “contenha sementes de sabedoria que florescerão e nos ajudarão a melhorar”, disse ele.

Inicialmente, esta ferramenta deverá permitir acelerar a concepção de novos medicamentos ou materiais mais sustentáveis.

“Se sonharmos um pouco, poderemos compreender a complexidade do mundo físico e utilizá-la para (…) descobrir materiais completamente novos que nos permitam fazer coisas antes impossíveis”, explicou à AFP Roxanne Tully, do fundo de investimentos Piva Capital.

A IA já está dando bons resultados em sistemas de previsão e alerta em caso de tornados ou incêndios florestais, mas ainda é necessário retirar as populações afetadas ou que os humanos concordem em ser vacinados em caso de pandemia, ressaltou Rayid Ghani, da Univesidade Carnegie Mellon.

“Nós criamos os problemas, não a IA. A tecnologia pode nos ajudar… um pouco (…) somente se os humanos decidirem usá-la para resolver estes problemas”, finalizou.

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