IA pode sustentar regimes mais totalitários do mundo, diz autor israelense

Durante evento em SP, Yuval Noah Harari afirmou que tecnologia irá superar seres humanos em atividades que envolvem de raciocínio e linguagem

Foto: Marco Ankosqui
Yuval Harari, professor israelense de História e autor de best-sellers Foto: Marco Ankosqui Foto: Foto: Marco Ankosqui

O escritor Yuval Noah Harari afirmou que o avanço dos mecanismos de inteligência artificial poderá ser a “principal base para os piores regimes totalitários do mundo” se não houver um controle rigoroso dos dados que as empresas de tecnologia poderão acessar sobre os seres humanos. A declaração foi dada nesta quinta-feira, 30, durante evento da Associação Brasileira de Planos de Saúde.

“Esses regimes não precisarão de agentes, porque terão dispositivos para nos ver e ouvir à distância, informações sobre o nosso corpo e capacidade de monitorar tudo que fazemos por meio da nuvem. Nós precisamos proteger nossos dados”, disse. “Se houver um grande sistema de saúde que coleta as informações médicos das pessoas para fazer avanços medicinais, isso é ótimo, mas autoridades policiais ou empresas de seguro não podem ter acesso a esses dados“.

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Professor e historiador israelense, Harari ganhou projeção mundial com os best-sellers “Sapiens: uma breve história da humanidade” (L&PM, 2015) e “Homo Deus: uma breve história do amanhã” (Companhia das Letras, 2016), que o transformaram em uma referência na discussão sobre as transformações tecnológicas. Em 2024, publicou “Nexus: ma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à inteligência artificial” (Companhia das Letras).

Assistentes de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, ganharam popularidade no consumo de informação

Na avaliação do escritor, o impacto político da IA pode ser medido de forma concreta a partir do consumo de informação nas redes sociais, onde a tecnologia “decide qual notícia estará no topo dos nossos feeds”. “Temos os sistemas mais sofisticados de inteligência e comunicação, mas as pessoas estão perdendo a habilidade de ouvir umas às outras, dialogar e chegar aos acordos mais básicos. O diálogo está colapsando, e uma das razões é porque o poder sobre sua gestão saiu da mão dos seres humanos e foi para a mão das máquinas“, concluiu.

No período em questão, a população mundial que vive sob regimes democráticos diminuiu para 6,6%, segundo a última edição do índice de democracia da Unidade de Inteligência da revista The Economist. Mesmo em nações democráticas, como o Brasil, os registros de aumento da violência política e uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 são reflexos da redução da capacidade de conciliação.

Onde a IA pode chegar, segundo Harari

“Ela sabe simular sentimentos e convencer seres humanos de possui sentimentos. Em termos de linguagem, a IA está ficando melhor do que eu, que trabalho como escritor. Ela tem a capacidade de descrever como é sentir amor, por exemplo, melhor do que um ser humano”, afirmou o israelense.

A inteligência artificial nos superará ao compor poemas, interpretar a bíblia, desenvolver diagnósticos ou jogar xadrez; mas em termos de consciência, que significa realmente sentir, não temos como saber“, concluiu Harari.

A imprensa internacional já relatou casos de substituição de seres humanos por máquinas nas relações sociais, mesmo para interações íntimas. Recentemente, um adolescente se suicidou após se envolver emocionalmente com um chatbot — a Character.AI, responsável pela plataforma, proibiu o acesso de menores de 18 anos.