A Hungria bloqueou nesta sexta-feira (15) um novo pacote de ajuda financeira da União Europeia (UE) à Ucrânia, depois de Bruxelas ter concordado em iniciar negociações formais de adesão com esse país.

Na madrugada desta sexta, durante uma cúpula de líderes europeus, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, impediu um acordo sobre ajuda financeira à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.

Pouco antes, a UE havia tomado a histórica decisão de abrir negociações de adesão com a Ucrânia, mas não conseguiu aprovar um pacote de ajuda no valor de 50 bilhões de euros (em torno de US$ 55 bilhões).

Em entrevista à rádio húngara, Orbán disse que o veto de seu país será levantado somente em caso de desbloqueio de todos os fundos da UE para seu país. Os recursos foram congelados, devido a dúvidas sobre a validade do Estado de direito.

“Sempre disse que, se se fizesse uma emenda ao orçamento da UE […], a Hungria aproveitaria a oportunidade para reivindicar claramente o que merece. Nem metade, nem um quarto, mas a totalidade” dos fundos congelados, frisou.

Também na madrugada desta sexta, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou que os líderes da UE voltam a abordar esta questão apenas em janeiro próximo. Ele disse estar “extremamente confiante e otimista” de que os países da UE “estaremos em condições de cumprir nossa promessa de apoiar a Ucrânia com meios financeiros”.

Hoje, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lamentou o ocorrido, mas garantiu que a UE encontrará uma maneira de superar o bloqueio da Hungria.

“Infelizmente, não conseguimos alcançar a unanimidade”, porque “a Hungria não teve condições de apoiar a proposta”, disse Von der Leyen.

“Temos trabalhado muito para alcançar um acordo dos 27 [países do bloco]. Acho que é também necessário trabalhar em potenciais alternativas para ter uma solução, caso um acordo entre todos não seja possível”, observou.

“Como Comissão, usaremos o tempo, até lá, para garantir que (…) tenhamos uma solução operacional”, disse Von der Leyen no encerramento da cúpula.

O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, disse na sexta-feira que a Hungria, “ao contrário de muitos países europeus, defende com firmeza seus interesses, e isso me impressiona”.

– “Uma vitória” –

A quinta-feira foi marcado pela decisão histórica da UE de abrir negociações formais com Ucrânia e Moldávia para a adesão desses dois países ao bloco. Além disso, a UE concordou em conceder à Geórgia o “status” de país candidato à adesão.

Na rede X, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, celebrou a decisão como “uma vitória para a Ucrânia. Uma vitória para toda a Europa”.

Foi a decisão mais importante na pauta da cúpula iniciada na quinta-feira, já que a oposição da Hungria à abertura dessas negociações parecia inflexível.

Fontes diplomáticas disseram à AFP que Orbán aceitou se ausentar temporariamente da sala de reuniões enquanto os representantes dos demais 26 países do bloco aprovavam a moção sobre as negociações com a Ucrânia.

Zelensky havia-se conectado com seus homólogos europeus mediante videoconferência e, em seu discurso, advertiu-os de que negar o diálogo à Ucrânia representaria um fracasso que a Rússia usaria em seu favor.

Já a presidente da Moldávia, Maia Sandu, afirmou na rede X que seu país “virou uma página hoje com a aprovação da UE para as conversas pela adesão”.

Esta decisão foi tomada depois de terem aumentado as dúvidas sobre a continuidade do apoio das potências ocidentais à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia, deflagrada em fevereiro de 2022.

Nas redes sociais, o chanceler alemão, Olaf Scholz, observou que a decisão constitui “um forte sinal de apoio” à Ucrânia.

Para Von der Leyen, trata-se de “um dia que permanecerá gravado na história de nossa União”.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que foi uma resposta “lógica, justa e necessária”.

O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, assinalou, por sua vez, que é “uma poderosa mensagem geoestratégica também para o resto do mundo, não somente para a Rússia”.

Durante a reunião, segundo Varadkar, Orban “apresentou seus argumentos e de maneira muito enfática. Ele está em desacordo com esta decisão […] mas essencialmente decidiu não utilizar seu poder de veto”.

Na quarta-feira, véspera da reunião, a UE anunciou o desbloqueio de pagamentos para a Hungria de até 10,2 bilhões de euros (11 bilhões de dólares, 54 bilhões de reais). Os valores haviam sido congelados por dúvidas sobre o funcionamento do Estado de direito no país.

ahg/eb/tt/jc/fp/mvv/am/rpr/ic/tt/dd