O sucesso nas redes sociais com cerca de 800 mil seguidores não fez o comediante Micael Naz fugir dos comentários maldosos na internet. Nascido em Fortaleza, no Ceará, o influenciador já tem carreira na web há quase uma década, mas revela ter sofrido com comentários atacando sua origem e até mesmo a própria mãe.

“Já recebi mensagens desagradáveis, principalmente, pelo estado da casa em que morava porque não tinha reboco. Era escura, então sempre haviam comentários dizendo que eu deveria parar de fazer vídeo, rebocar a casa e coisas do gênero. Também já houveram comentários ofensivos com relação a minha mãe ter cabelo crespo. Foram mais ataques pela origem pobre do que pela localização”, desabafa.

Na visão do jovem de 25 anos, o preconceito no Brasil é reproduzido de forma velada por medo do cancelamento, apesar de ficar em evidência em certos momentos: “Períodos políticos, por exemplo, em que nós nordestinos somos massacrados diariamente na internet, sendo chamados de pobres, burros e coisas piores do que isso”

“É triste, mas quem é daqui sabe quem é que tem as melhores notas no ENEM, quem tem mais medalhas em Olimpíadas de conhecimento, quem tem mais aprovações no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), além de possuir grandes nomes da literatura nacional, do cinema e da música. Então, podem tentar nos apequenar com os comentários, pra um povo que já enfrentou a seca, o ódio que eles reproduzem não é nada”, continua.

Questão também muito presente na realidade de quem produz conteúdo fora do eixo Sul-Sudeste do país é o esquecimento das grandes marcas. Micael diz que as empresas de maior porte não abrem os olhos para os criadores de conteúdo da região Nordeste e Norte, por exemplo, com exceção aos influenciadores gigantes, que já furaram a bolha.

Na opinião do estudante de Cinema e Audiovisual, mesmo produzindo conteúdo de qualidade e tendo público, a preferência e os maiores contratos são sempre para os que estão no eixo. Ele acrescenta que, inclusive, a frequência com que se fecha trabalhos também é muito maior com os criadores do sudeste. Micael afirma que é bem mais difícil de viver de internet no Nordeste e exemplifica expondo uma situação que ocorreu com uma marca.

“Recebemos dois convites, um para participarmos de um evento de estreia de um dorama em uma TV aberta, que fica em São Paulo, e outro para a inauguração da exposição Luzes da Coreia que aconteceria também na cidade paulista. No entanto, nenhuma das duas pessoas que fizeram os convites sequer sabiam que não éramos de São Paulo. Ou seja, o convite foi feito como se pudéssemos ir de carro. Quando falamos que éramos de Fortaleza. o assunto se encerrou porque, de acordo com eles, não poderiam nos dar passagem para participarmos”, disse.

Sucesso com suas esquetes de humor, em que tem o foco sobre doramas e cultura asiática, o humorista tem como grande ídolo o Whindersson Nunes, sonha em ser referência para os nordestinos e dá recado aos que ainda reproduzem preconceito.

“Acredito que existe a possibilidade de eu vir a ser uma referência para as pessoas daqui um dia, mas ainda é muito cedo. Preciso conquistar coisas muito mais concretas, mas, sem dúvida, se isso acontecer eu serei muito grato por ser visto como referência para quem é de fora do sudeste. O recado que eu dou pra quem reproduz isso é que o seu preconceito é do tamanho da sua ignorância. Mas que sempre há tempo para repensar e refletir sobre o que estamos propagando”, finaliza.