Descobertas na Turíngia mostram que Homo sapiens já vivia na região muito antes do que se pensava, mesmo com temperatura de 7 a 15 graus mais baixa do que hoje. Descoberta também revela coexistência com Neandertais.

Os humanos modernos colonizaram o Centro e o Noroeste da Europa muito antes do que se sabia, mostram descobertas feitas na caverna de Ilsenhöhle, na cidade de Ranis, no estado alemão da Turíngia.

Segundo os achados, o Homo sapiens viveu na região há pelo menos 45 mil anos – e isso a uma temperatura média de 7 a 15 graus Celcius mais baixa do que hoje.

As descobertas foram anunciadas nesta quarta-feira (31/01) por uma equipe de pesquisa internacional liderada por Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig.

Tratam-se dos restos mais antigos de humanos modernos encontrados até agora na Europa Central e Noroeste. Até então, a ciência presumia que a capacidade dos seres humanos de resistir a condições climáticas frias só havia surgido vários milhares de anos mais tarde.

Coexistência com Neandertais

Além disso, os três estudos do instituto publicados nas revistas Nature e Nature Ecology & Evolution mostram que o Homo sapiens e os neandertais coexistiram na Europa durante milhares de anos – possivelmente até por mais de 10 mil anos.

“O sítio em Ranis forneceu evidências da primeira expansão do Homo sapiens nas latitudes setentrionais da Europa”, disse Hublin. “Agora é certo que os instrumentos de pedra que se pensava terem sido feitos pelos Neandertais foram definitivamente feitos pelos humanos modernos”,

Convivência com grandes carnívoros

Os pesquisadores acreditam que esse humanos modernos se moviam em pequenos grupos, em paisagens compartilhadas com grandes carnívoros, como hienas.

“Pesquisas arqueozoológicas mostram que a caverna Ranis foi usada alternadamente por hienas, ursos das cavernas em hibernação e pequenos grupos de humanos”, relatou o coautor da pesquisa Geoff Smith, da Universidade de Kent, na Inglaterra.

“Embora esses humanos usassem a caverna apenas por curtos períodos de tempo, consumiam carne de vários animais, incluindo renas, rinocerontes-lanudos e cavalos”, explica.

Na região, havia estepes (formação vegetal de planície com poucas árvores) semelhantes às da atual Sibéria ou do norte da Escandinávia. É possível que esses humanos tenham se mudado para essa região fria justamente com o objetivo de caçar animais maiores.

“Os resultados da pesquisa em Ilsenhöhle em Ranis nos faz repensar a história do povoamento no início da era dos humanos modernos e sua cronologia”, explicou Tim Jünger, do Escritório Estadual da Turíngia para Preservação de Monumentos e Arqueologia.

Escavações de 2016 a 2022

As escavações foram feitas por uma equipe internacional de pesquisa na caverna de Ilsenhöhle, de 2016 a 2022. Foram recuperados achados a oito metros de profundidade.

Debaixo de um bloco de pedra, os cientistas encontraram fragmentos de ossos humanos e milhares de fragmentos de ossos de pequenos animais.

Paralelamente às descobertas das novas escavações, também foram examinados antigos achados da caverna da década de 1930. No total, os pesquisadores identificaram 13 restos de esqueletos humanos.