A gigante Huawei – símbolo da capacidade tecnológica da China e alvo de diversas medidas protecionistas dos Estados Unidos – vem procurando contornar a pressão do governo norte-americano e garantir a resiliência das suas operações na América Latina. A região representa uma fatia pequena do seu faturamento global, mas é um dos polos consumidores onde seus negócios mais crescem em termos proporcionais.
O presidente da Huawei para a América Latina e Caribe, Daniel Zhu, disse que a multinacional está mais preocupada com a qualidade de seus serviços e com a satisfação dos clientes, e não com as últimas medidas dos Estados Unidos. O governo de Donald Trump acaba de confirmar a elevação das tarifas para importações de produtos da China, México e Canadá.
“Não estou interessado em Donald Trump, na atitude americana e no que eles estão tentando fazer (…) Não há muitas coisas que podem nos assustar”, declarou Zhu. “Se o retorno do meu cliente for bom, se meu produto ou serviço forem bem recebidos, então eu também estou confiante”, acrescentou, lembrando que a empresa atua há 28 anos na região.
O executivo da Huawei participou nesta terça-feira, 4, de uma entrevista coletiva em razão do Mobile World Congress (MWC), feira de telecomunicações que ocorre anualmente em Barcelona, com operadoras, fornecedores e governos do mundo todo.
Na ocasião, Zhu mencionou que o anúncio das tarifas pelos EUA é muito recente para que ele pudesse ter uma avaliação mais precisa sobre potencial impacto nos negócios. “Não começamos realmente a considerar nada sobre as consequências para a questão tarifária. Talvez isso seja algo em nossa agenda.”
Há anos, a Huawei foi banida do mercado norte-americano sob alegação de que a empresa representaria um risco para a segurança nacional. O bloqueio é um símbolo das disputas comerciais e políticas entre os governos de China e Estados Unidos. Alguns aliados dos norte-americanos seguiram o mesmo rumo, caso do Canadá, que também bloqueou negócios da Huawei no País.
Ao dobrar a aposta no protecionismo logo no começo de seu novo mandato, Trump disparou o alerta de que eventuais medidas mais duras pudessem respingar sobre empresas chinesas, especificamente. No momento, o quadro é incerto. “Não podemos prever o que vai acontecer. Não faz sentido para mim tirar qualquer conclusão antes”, ponderou o representante da Huawei.
Bilhões
Na gigante chinesa, a ordem é seguir adiante em sua estratégia de crescimento para a América Latina e o Caribe, onde tem escritórios em 28 países. O faturamento na região cresceu 11% de 2022 para 2023, para cerca de US$ 5 bilhões, conforme dados do último balanço. O montante é 5% da receita total. A China, sozinha, responde por 76% do bolo, que totalizou US$ 99 bilhões.
No Brasil, a multinacional tem duas fábricas de equipamentos de internet móvel e fixa, em Jundiaí (SP) e Manaus, respectivamente. A empresa já é fornecedora de antenas, fibra ótica e estações 4G e 5G para as operadoras. No momento, trabalha para a chegada futura do 5.5G. As teles TIM, Vivo e Claro são clientes e já anunciaram testes com a nova tecnologia, mas ainda sem data para o lançamento comercial. Outro grande mercado é o de provedores de banda larga.
A Huawei pretende também se popularizar entre o grande público, com lançamentos voltados ao consumidor final, desde fones, relógios digitais a celulares. “No Brasil, Colômbia e México voltamos ao mercado de dispositivos no ano passado. Vocês começarão a ver novamente nossos eventos de lançamentos”, comentou Zhu, projetando avanços já este ano.
O grande desafio para a Huawei é voltar a montar uma posição no setor de celulares, dada a barreira imposta pelos Estados Unidos. Ainda no primeiro governo Trump, as empresas americanas foram proibidas de fazer negócios com a Huawei. Na prática, a chinesa ficou sem poder usar os sistemas operacionais Android IOS nos seus celulares, sendo forçada a desenvolver um sistema próprio. O problema, entretanto, é a falta de aplicativos queridos do público ocidental – como Whatsapp e Instagram – nos celulares da chinesa.
Por isso, a multinacional está buscando alternativas que possam estimular a demanda, como incentivo a desenvolvedores para criar outros aplicativos que possam se tornar um hit do público. “No futuro, os smartphones da Huawei vão estar rodando fora da China, baseados em nosso próprio sistema operacional. Agora, para o mercado global, incluindo o Brasil, o foco é aquecer nossos ecossistemas”, contou Zhu.
*O jornalista viajou a Barcelona a convite da Huawei