A ONG Human Rights Watch (HRW) acusou, nesta quarta-feira (3), os governos de Panamá e Colômbia de “não proteger” as centenas de milhares de migrantes que cruzam a inóspita selva de Darién rumo aos Estados Unidos.

Em um relatório de 120 páginas, a organização também acusou os dois governos de não investigar “adequadamente” as denúncias dos migrantes sobre violência sexual e outros crimes de que são vítimas durante sua passagem por esta selva situada na fronteira binacional.

“Colômbia e Panamá não estão protegendo, nem assistindo às centenas de milhares de migrantes e solicitantes de asilo que passam pelo tampão de Darién. Tampouco estão investigando adequadamente os abusos cometidos contra eles”, disse a HRW em nota.

“As autoridades colombianas e panamenhas deveriam prevenir delitos de parte de grupos criminosos e delinquentes (e) investigar os abusos”, acrescentou.

Segundo o HRW, “dezenas, senão centenas de pessoas, perderam a vida ou desapareceram durante a travessia. Muitas não foram encontradas”.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 245 pessoas desapareceram entre 2021 e março de 2023, afirmou a HRW. “É possível que o número seja muito maior”, acrescentou a ONG.

Esta floresta inóspita, de 266 km de extensão e 575.000 hectares, se tornou um corredor para os migrantes que tentam chegar da América do Sul aos Estados Unidos, através da América Central e do México.

Por ali passaram caminhando mais de 520.000 pessoas em 2023 e outras 110.000 desde o começo deste ano, segundo dados oficiais panamenhos.

Os migrantes, em sua maioria venezuelanos, haitianos, equatorianos, colombianos e chineses, enfrentam animais selvagens, como serpentes venenosas, rios caudalosos e grupos criminosos.

“Seja qual for o motivo de sua viagem, os migrantes e solicitantes de asilo que cruzam o tampão de Darién têm direito a condições mínimas de segurança e ao pleno respeito de seus direitos humanos durante a viagem”, ressaltou Juanita Goebertus, diretora da Divisão das Américas da HRW.

Segundo esta organização, os crimes contra os migrantes, “incluindo constantes casos de violência sexual, não costumam ser investigados, nem punidos”.

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou recentemente que quadrilhas criminosas estupraram, em média, 16 mulheres migrantes por dia em fevereiro, frente a aproximadamente três casos diários no mês anterior.

Depois destas denúncias, o Panamá suspendeu as operações do MSF no país.

Goebertus pediu às autoridades para “reconsiderar urgentemente” esta decisão.

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