26/09/2022 - 16:56
Milly Alcock e Emily Carey. Olá, Emma D’Arcy e Olivia Cooke. Goste você ou não, A Casa do Dragão, ou House of the Dragon, dá um salto no tempo, trocando quem faz Rhaenyra Targaryen (sai Alcock, entra D’Arcy) e Alicent Hightower (com Cooke no lugar de Carey). O episódio 6, A Princesa e a Rainha, estreou na noite de ontem na HBO e HBO Max.
ATENÇÃO: SPOILERS DO EPISÓDIO 6 DE A CASA DO DRAGÃO. SÓ CONTINUE SE ESTIVER EM DIA COM A SÉRIE.
Milly Alcock e Emily Carey certamente vão fazer falta – as duas deram conta de personagens complexas, com relações complicadas, inclusive entre si. É verdade que a aceleração da narrativa dessa temporada, com elipses que suprimem anos de história, deixaram o espectador com vontade de ver mais. Por exemplo, o que aconteceu logo após o anúncio do casamento de Alicent com o rei Viserys (Paddy Considine), o pai de Rhaenyra?
Aqui é ainda mais drástico, já que o pulo é de dez anos. E aquele casamento que virou enterro de Rhaenyra e Laenor (Theo Nate) ficou com muitas questões sem resposta. Como Criston Cole (Fabien Frankel) conseguiu sair impune daquela “festa” depois de matar o amante do noivo? Não tinha ninguém para impedir o assassinato? Onde foi parar Daemon Targaryen (Matt Smith) depois de quase se pegar com a sobrinha na pista de dança no noivado dela?
Enfim, fato é que Criston Cole está vivo e bem, depois de ser salvo do suicídio pela rainha Alicent. E agora virou uma espécie de conselheiro dela – a não ser quando usa uma expressão machista e irrepetível para se referir a Rhaenyra, tomando um ar de reprovação de Alicent. Ponto para ela, que no mais está se mostrando uma cidadã de bem da pior espécie.
Como era de se esperar, a tensão entre a rainha e a princesa alcançou um nível absurdo. A sequência inicial traz Rhaenyra, agora Emma D’Arcy, em trabalho de parto. É um momento tenso, que remete diretamente à morte de sua mãe tentando dar um herdeiro homem a Viserys. Mas tudo sai bem no parto. Alicent, porém, exige que a princesa lhe apresente o filho logo depois do nascimento. Apoiada por Laenor (John Mcmillan), ela anda pelo palácio, neném no colo, para satisfazer o capricho da rainha, que finge preocupação, como se a ordem não tivesse partido dela. A série mostra muito bem as nuances da agressão feminina.
Mas por que diabos Rhaenyra, antes tão altiva, não reage à hostilidade da rainha? Como sempre em A Casa do Dragão, nem tudo é muito claro, o que gera especulações, debates, conversas, como todo bom drama. Rhaenyra cresceu e sabe que sua posição é frágil. Não só ela pode ser contestada como herdeira do Trono de Ferro, como também seus filhos, que não são de Laenor, mas de Harwin Strong (Ryan Corr), aquele mesmo que salvou a princesa do terror em seu próprio casamento. Alicent sabe disso. A corte inteira sabe disso. Só Viserys não quer acreditar.
Alicent também não é mais a menina ingênua de antes. Ela cresceu com os ensinamentos do pai na cabeça e está lutando para que seus filhos sejam os herdeiros. Torce o nariz para o que considera ser desonra e indecência da princesa. Mas, como sempre, há ali uma mistura de mágoa por ter sido traída e inveja de Rhaenyra, que finalmente se livrou dos boys lixo (Criston, Daemon) e encontrou um homão para si.
Mas por pouco tempo. Porque Alicent se aliou aos piores: Criston Cole – há algo mais perigoso do que um homem com orgulho ferido? – e Larys Strong (Matthew Needham), cujas motivações são bem pouco claras. Larys, uma pessoa com deficiência física, é filho da Mão do Rei, Lyonel (Gavin Spokes), e irmão de Harwin, dois homens aparentemente honrados. Larys já falou dos problemas de ser o segundo filho e nesse episódio diz que crianças são uma fraqueza, e o amor é a ruína. Por enquanto, também parece apenas um homem com orgulho ferido.
O que ele faz supostamente em nome da rainha é assustador, até mesmo para Alicent, que ainda não chega a ser uma Cersei Lannister (Lena Headey em Game of Thrones), mas está a caminho.
E o Daemon, hein? Pois é, o Daemon foi lá e, depois de matar a mulher, casou-se com Laena Velaryon (Nanna Blondell), a irmã de Laenor, marido de Rhaenyra. Assim fica tudo em família, não é mesmo?
Que linda a cena de Laena montando o maior dos dragões vivos, Vhagar. E ela torna ainda mais forte a cena posterior, em que ordena a Vhagar a matá-la, quando, em trabalho de parto, percebe que não vai sobreviver. É outro desfecho trágico de uma mulher grávida em A Casa do Dragão, mas a posição de Daemon é bem diferente daquela de seu irmão Viserys ao receber a mesma escolha: uma cesárea sem anestesia, que vai matar a mãe, ou a morte dela e do bebê. A diferença pode ser de temperamento. Mas pode, também, ser pela posição: Viserys precisa de um herdeiro. Daemon, não.
A cena também desfaz o mito para quem só viu Game of Thrones de que os Targaryen são todos resistentes ao fogo. Daenerys era. Outro mito derrubado: os Targaryen são todos cavaleiros de dragão. Há toda uma disputa entre quem tem dragão ou não, seja entre Aegon e Aemond, os filhos de Alicent e Viserys, ou entre Rhaena e Baela, filhas de Daemon e Laena. E Viserys já falou diversas vezes como existem os Targaryen que sonham com o futuro também.
O salto de dez anos no tempo era um risco para A Casa do Dragão. Outras séries também trocam seu elenco, como The Crown, mas raramente no meio de uma temporada, especialmente da primeira, quando o espectador ainda está conhecendo os personagens e se afeiçoando aos atores. Mas Emma D’Arcy e Olivia Cooke mostraram força suficiente nesse seu primeiro episódio. Verdade que as muitas lacunas deixadas pelo pulo podem ser um pouco grandes demais para alguns espectadores. Só que, de novo, a série costuma se beneficiar delas para gerar bochicho virtual. E, com seus muitos acontecimentos, o fato é que A Princesa e a Rainha é outro episódio excelente de House of the Dragon.
Ponto forte: como a série trata de maneira realista a maternidade, seja com a irritação de Alicent com seus bebês chorões ou, aqui, com Rhaenyra tendo vazamento de leite no meio de uma reunião do conselho.
Ponto fraco: o CGI de Daemon montando em Caraxes. O dinheiro foi todo para Laena e Vhagar.
Ponto fraco: Laena e Harwin aparecem muito pouco. Verdade que nas poucas cenas dá para entender quem são, mas seria legal ter um pouco mais dos dois.