MILAO, 23 OUT (ANSA) – O Ministério Público de Bergamo, na Lombardia, apurou que o hospital de Alzano Lombardo, de onde o novo coronavírus (Sars-CoV-2) começou a se espalhar no início da pandemia na Itália, não higienizou o local totalmente após a descoberta dos primeiros casos em 23 de fevereiro.   

Segundo o inquérito, o ex-diretor geral do centro médico Francesco Locati e o ex-diretor de saúde Roberto Cosentina teriam feito declarações falsas em documentos públicos, afirmando que foram aprovadas e realizadas todas as medidas exigidas pelo regulamento de saneamento do pronto-socorro de Alzano contra a Covid-19.   

Na ocasião, o hospital foi lacrado e reaberto em um intervalo de três horas. No entanto, a higienização teria sido feita incompleta, conforme as análises. Além disso, a investigação apurou que Locati e Cosentina também emitiram um relatório sobre os testes realizados em pacientes e funcionários no dia 23 de fevereiro com informações falsas.   

Os dois diretores respondem por epidemia negligente e culposa agravada pela “morte de várias pessoas” e por declarações falsas, segundo o decreto assinado pelo procurador Antonio Chiappani.   

O ex-diretor-geral de Saúde da Lombardia Luigi Cajazzo, o ex- deputado Marco Salmoiraghi e a diretora da Empresa Sociossanitária Territorial (ASST) Aida Andreassi também estão sendo investigados.   

As informações sobre o caso foram reveladas após uma operação ter acesso a dados de computadores, e-mails, mensagens de WhatsApp de uma série de funcionários e gestores regionais.   

Entre os documentos apreendidos estão os prontuários de Ernesto Ravelli, 84 anos, o primeiro paciente falecido na província de Bergamo, que chegou ao hospital no dia 21 de fevereiro, e de Franco Orlandi, 83 anos, que estava internado, mas só recebeu o diagnóstico de Covid-19 em 23 de fevereiro, dois dias antes de sua morte.   

Em julho passado, um comitê de familiares de vítimas da pandemia do coronavírus enviou uma carta aos presidentes da Comissão Europeia e do Tribunal dos Direitos Humanos para denunciar possíveis crimes contra a humanidade na gestão da crise.   

O documento também foi apresentado ao Ministério Público de Bergamo, pelo comitê Noi Denunceremo (“Nós denunciaremos”), e chama a atenção para as decisões tomadas na região e que “teriam causado milhares de mortes de idosos” em asilos e o “colapso de hospitais”.   

A província de Bergamo registrou seus primeiros casos em 23 de fevereiro, mas só entrou em lockdown em 9 de março, com o restante da Lombardia. A postura das autoridades divergiu daquela adotada para as 11 cidades que diagnosticaram os primeiros contágios por transmissão interna na Itália, em 21 de fevereiro.   

No dia 26 de fevereiro foram registrados “apenas” 20 casos que passaram para 72 no dia seguinte, quase quatro vezes mais. Já no dia 28, a quantidade saltou para 103, enquanto que em 1º de março dobrou para 209, dando início ao surto na região. (ANSA)