Hong Kong procura centenas de desaparecidos após incêndio que deixou mais de 80 mortos

Os bombeiros de Hong Kong buscam nesta quinta-feira (27) mais de 200 desaparecidos após o enorme incêndio que consumiu um complexo de arranha-céus residenciais e causou ao menos 83 mortos, no pior desastre ocorrido na cidade em décadas.

O fogo começou na tarde de quarta-feira em um conjunto de oito torres com 2 mil apartamentos. A emergência abalou a cidade semiautônoma chinesa, que possui alguns dos complexos habitacionais mais densamente povoados do mundo.

As chamas tiveram início nos tradicionais andaimes de bambu que rodeavam os edifícios de 31 andares do complexo Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, na zona norte, que estavam em obras.

O último balanço chega a 83 mortos, o que faz desta tragédia o incêndio mais letal em Hong Kong desde 1948.

A polícia instalou um local para identificação de vítimas em um centro comunitário próximo, onde são exibidas fotografias dos corpos resgatados do incêndio para familiares desesperados que buscam seus desaparecidos.

“Se os rostos estão irreconhecíveis, há objetos pessoais para que as pessoas possam identificá-los”, relatou uma mulher identificada como Cheung, que procurava seus familiares.

“Não tenho palavras. Havia crianças (…) Não consigo descrever”, disse.

Os incêndios em quatro das oito torres de apartamentos já foram extintos, e os que atingem outros três edifícios estão “sob controle”, segundo as autoridades. O arranha-céu restante não foi afetado.

As autoridades investigam a causa do fogo, incluindo a presença de andaimes de bambu e telas protetoras de plástico que envolvem essas estruturas.

O órgão anticorrupção de Hong Kong iniciou uma investigação sobre as obras de reforma no complexo afetado.

Horas antes, a polícia informou a prisão de três homens suspeitos de terem deixado negligentemente embalagens de espuma no local.

O chefe executivo da cidade, John Lee, anunciou ainda que todas as urbanizações que estiverem passando por obras importantes serão imediatamente inspecionadas.

– “Todo o complexo terminou em chamas” –

Vários moradores do complexo Wang Fuk Court disseram à AFP que não ouviram nenhum alarme de incêndio e que tiveram de ir de porta em porta alertar os vizinhos sobre o perigo.

“Tocar a campainha, bater às portas, alertar os vizinhos, dizer para saírem… assim era a situação”, disse um homem identificado como Suen. “O fogo se espalhou muito rapidamente”, acrescentou.

Outro testemunho, Wong Sik-kam, contou que seu filho, bombeiro, estava combatendo o incêndio que destruiu a casa onde ele vivia havia 40 anos.

“Meu filho estava lá fora e me ligou dizendo: ‘Pai, há um incêndio’. Abri a janela e vi os bombeiros”, explicou. ‘Primeiro pensei que fosse um fogo normal (…) Mas acabou sendo tão grande que todo o complexo terminou em chamas”, disse Wong.

O chefe executivo da cidade havia informado, de madrugada, que 279 pessoas estavam desaparecidas, embora os bombeiros tenham comunicado mais tarde que conseguiram estabelecer contato com algumas delas.

– “Não consegui dormir” –

O consulado da Indonésia informou, por volta do meio-dia, que dois dos falecidos eram originários do país e trabalhavam no serviço doméstico.

Yayuk, um indonésio de 40 anos, contou à AFP que não consegue encontrar sua irmã mais velha, Sri-Wahyuni, que trabalhava e vivia em um apartamento do complexo incendiado.

“Não consegui dormir a noite inteira. Esta manhã fui ao consulado perguntar se ela havia sido internada em algum hospital”, relatou.

Durante as primeiras horas da emergência, partes carbonizadas dos andaimes caíam dos blocos em chamas. Pelas janelas, viam-se os apartamentos engolidos pelo fogo.

O presidente chinês, Xi Jinping, expressou suas condolências às famílias e “pediu que todos os esforços sejam feitos para extinguir o incêndio e minimizar as vítimas e os prejuízos”, informou a emissora estatal CCTV.

Na tarde desta quinta-feira, alguns moradores dos blocos vizinhos que haviam sido evacuados por precaução puderam retornar para suas casas.

Incêndios mortais foram durante anos uma chaga recorrente na densamente povoada Hong Kong, especialmente nos bairros mais pobres.

No entanto, nas últimas décadas, as medidas de segurança foram reforçadas e esses incêndios tornaram-se muito menos frequentes.

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