O governo de Hong Kong autorizou nesta quinta-feira (24) o trabalho de profissionais da saúde da China continental em seu território, diante do temor de colapso do sistema de saúde com o aumento expressivo dos casos de covid-19.
Hong Kong, cujo sistema jurídico é diferente do sistema da China continental, adotou um “marco jurídico” para que o governo central chinês “proporcione apoio de emergência necessário (…) de maneira mais eficaz e rápida”, anunciou o governo da cidade em um comunicado.
Atualmente, os médicos da China continental não podem trabalhar em Hong Kong sem a aprovação em exames locais e também precisam de uma autorização.
O território, teoricamente semiautônomo, enfrenta a maior onda de contágios de coronavírus desde o início da pandemia, com milhares de casos a cada dia. Os hospitais estão lotados e as autoridades exigem que todos os pacientes, inclusive os assintomáticos, permaneçam isolados em unidades específicas.
Equipes da China continental estão construindo dois novos centros de isolamento temporário para 9.500 pessoas infectadas. O governo também destinou 20.000 camas de hotel com este objetivo.
Assim como a China continental, Hong Kong – uma das cidades mais densamente populosas do mundo – adotou uma estratégia “covid zero” extremamente rígida, com a qual conseguiu escapar em grande medida da pandemia durante dois anos.
Mas a chegada da variante ômicron, altamente contagiosa, no fim de dezembro surpreendeu as autoridades. “Hong Kong enfrenta uma situação epidêmica muito grave, que continua piorando rapidamente”, afirmou o governo em um comunicado, que anuncia o recurso de poderes de exceção.
Estes poderes “isentam algumas pessoas ou projetos de todos os requisitos legais pertinentes, com o objetivo de aumentar a capacidade de controle da epidemia em Hong Kong e conter a quinta onda em um curto período de tempo”, segundo o comunicado.
– Profissionais “esgotados” –
O anúncio acontece uma semana depois de o presidente chinês, Xi Jinping, afirmar que Hong Kong deveria adotar “todas as medidas necessárias” para controlar a epidemia, destacando que a cidade não poderia considerar a possibilidade de conviver com o vírus, como a maior parte do planeta.
Há vários anos se discute a possibilidade de permitir o trabalho de médicos da China continental em Hong Kong. Antes da pandemia, os defensores da medida alegavam que poderia aliviar as carências do sistema de saúde da cidade, já sobrecarregado.
Os médicos locais foram contra e citaram problemas de idioma, assim como barreiras culturais, o que rendeu acusações de protecionismo.
Hong Kong registrou mais de 62.000 casos de covid-19 desde o início da nova onda, contra apenas 12.000 nos dois anos anteriores. Analistas temem um número real de pessoas infectadas muito maior.
Os laboratórios de análises estão sobrecarregados e muitos moradores evitam os testes pelo temor do isolamento obrigatório.
As autoridades de saúde informaram que 1.200 profissionais da área foram infectados.
O presidente da Autoridade Hospitalar de Hong Kong, Henry Fan, afirmou que aguarda com ansiedade o envio de médicos e enfermeiros chineses, por que os profissionais da cidade estão “esgotados”.
Hong Kong anunciou que os 7,4 milhões de habitantes devem ser submetidos a três séries de exames obrigatórios em março.