Honduras elege neste domingo (28) um novo presidente em um clima de tensão diante de possíveis excessos, dependendo do resultado, em um país afetado pela pobreza e onde o narcotráfico abrange inclusive o atual presidente Juan Orlando Hernández.

A candidata opositora do partido esquerdista ‘Libre’, Xiomara Castro, é a favorita entre os mais de cinco milhões de eleitores, mas o governante Partido Nacional (PN), de direita, cujo candidato é o prefeito de Tegucigalpa, Nasry Asfura, se beneficiou de uma melhor organização e oportunas campanhas do governo de entrega de auxílios a famílias vulneráveis.

Os temores de fraude, algo que a oposição já denunciou em 2017, e registros de ao menos 31 mortos como parte da violência política na campanha, alimentam as tensões.

“Se o PN ganhar as eleições, mesmo que legitimamente, haverá um nível de violência preocupante”, disse à AFP o analista Raúl Pineda, advogado e ex-legislador do PN.

Há quatro anos, Hernández conseguiu se reeleger em meio a acusações de fraude por parte da oposição e de observadores internacionais.

Isso desencadeou uma onda de protestos e repressão estatal que deixou quase trinta mortos.

“Temos medo de perder o emprego por conta das revoltas. Vivemos com o que ganhamos no dia”, afirma Luis Andino, que se dedica a administrar os processos de quem solicita carteira de motorista. Quando há protestos, a área onde trabalha é fechada.

Tudo isso em um país já prejudicado pelas ações das gangues, pelo narcotráfico e por furacões, com 59% de seus 10 milhões de habitantes na pobreza.

– Washington de olho –

“Foi desenvolvida uma espécie de paranoia, as pessoas estão se preparando para a guerra”, com cidadãos que nos últimos dias se abasteceram com comida e água devido ao medo de não poderem sair para comprar, disse Pineda.

Mas ele insiste que Washington está prestando muita atenção em Honduras. Não quer que uma nova crise incentive ainda mais as ondas migratórias que constantemente vão da América Central para os Estados Unidos.

Por isso, enviou o chefe de sua diplomacia para a América Latina, Brian Nichols, a uma reunião com os candidatos, enquanto observadores internacionais buscam garantir eleições transparentes.

As urnas abrem às 07h00 no horário local (10h00 no horário de Brasília) e fecham às 17h00 (14h00). Não há cédulas.

O momento crucial no qual seria “possível desencadear a violência” chegará três horas após o encerramento, quando está previsto que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anuncie os primeiros resultados, disse à AFP Gustavo Irias, diretor executivo do Centro de Estudo para a Democracia.

“Evitar isso dependerá da atitude dos atores políticos, das missões de observação e dos Estados Unidos”, considerou.