O espancamento de um homem no meio de um show do cantor Fabio Jr é um sinal dos tempos. Mostra um mundo em decomposição em que acabou o amor. A situação está brava e demonstrações de destempero e ataques de fúria estão na ordem do dia. O advogado Antônio Carlos Juliano, de 63 anos, foi espancado até a morte e teve o rosto pisoteado por um homem identificado como Leandro Luiz Manrique, de 43 anos, na apresentação do artista que acontecia no Clube de Campo de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo, no último sábado. Tudo por causa de um empurrão ou um estranhamento banal. O assassino esqueceu a trilha sonora que deveria embalá-lo em sentimentos elevados e, tomado pelo ódio, destruiu o inimigo momentâneo com chutes e socos. Não existe mais a fantasia romântica. Na verdade, ela já acabou há muito tempo. Mas esse crime horroroso num evento que deveria ser paz e amor parece eliminar qualquer esperança de que ela retorne.

O clima anda cada vez pesado. Vive-se um ambiente tóxico, um mundo de fúria. Um vacilo, um pisão no pé de um sujeito sem querer pode render um tiro na testa, um chute na cara ou um mata-leão. Chama atenção a desproporcionalidade das reações e o contexto pacato em que explodem. Diferenças insignificantes entre desconhecidos se desenvolvem rapidamente até se tornar um assassinato. No meio de uma almoço em família uma loucura homicida é despertada. A tolerância geral está diminuindo. Mas há uma quantidade cada vez maior de gente egocentrada sem tolerância nenhuma e disposta a partir para a violência imediatamente. O resultado é que o cara vai para um show do Fabio Jr para se divertir, encontra um tipo agressivo e termina violentamente assassinado.

A decomposição do mundo é a loucura se impondo, é o maluco violento querendo fazer valer sua lógica destrutiva, é a incapacidade de cada um ajustar suas condutas. Isso está se tornando cada vez mais comum, E algo realmente está se perdendo, qualquer vestígio de cordialidade e de boa convivência. O que aconteceu na apresentação em Sorocaba é só um exemplo, um pequeno símbolo, de que a violência se impõe em favor de qualquer sentimentalismo. As pessoas precisam ter calma, não podem querer tratar cada semelhante como um adversário, achar que as diferenças, como um empurrão, são inconciliáveis. Ninguém mais curte o som. Tudo se resolve na porrada.