Não é irônico dizer que o espetáculo mais premiado na 29ª edição do Prêmio Shell trata do eterno medo de todo artista: o fracasso. A cerimônia realizada na noite de terça, 21, na Vila Olímpia, anunciou dois troféus para O Grande Sucesso, estrelado por Alexandre Del Nero. Entre os vencedores, a atriz Miriam Mehler venceu ao lado de Fúlvio Stefanini. Antonio Fagundes foi o homenageado da noite que ainda rendeu gritos e protestos de “Fora, Temer”.

A peça protagonizada por Nero fez temporada em São Paulo trazendo a história da difícil condição de artistas secundários que aguardam ansiosamente na coxia a hora de entrar em cena. A montagem venceu nas categorias autor, por Diego Fortes, e figurino, por Karen Brusttolin. O ator que não recebeu indicações festejou a surpresa de levar o prêmio em São Paulo. “É muita felicidade ver um trabalho – que começou com grandes artistas e amigos de Curitiba – vir para cá e vencer. É o lugar certo para isso.”

Por outro lado, a peça, que fazia temporada no Rio, foi cancelada recentemente após uma confusão no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea. Em cartaz no mesmo espaço e no mesmo horário, o som de Renato Russo, o Musical estava vazando e incomodando a plateia e os artistas de O Grande Sucesso, no andar de cima. A direção do teatro tentou suspender a peça de Bruce Gomlevsky, mas o ator conseguiu uma liminar obrigando a realização do espetáculo.

A cerimônia do prêmio também foi preenchida por gritos e protestos do Coletivo Bijari, reconhecido na categoria cenografia por Adeus Palhaços Mortos. O grupo agradeceu aos jurados e levantou faixas contra o presidente Michel Temer. O espetáculo com direção de José Roberto Jardim está na programação do World Stage Design, festival de design e performance que será realizado em Taiwan, em julho desse ano.

Na categoria direção, Felipe Hirsch conquistou o troféu com a montagem A Tragédia Latino-americana e falou da importância da relação dos artistas com o Ministério da Cultura (Minc). “Os artistas têm sido tão linchados por esse governo. Ele diz que a arte não serve para nada. Precisamos restabelecer a nossa confiança junto ao Minc. São tempos de trevas.” O diretor ainda citou o cenário político e econômico no Rio. “Quando estreamos lá, a polícia estava jogando bombas que custavam R$ 800 em professores que ganham um salário de R$ 800. Mas ainda assim acredito que há uma luz no fim do túnel e vamos chegar lá.”

O grande homenageado da noite foi o ator e produtor Antonio Fagundes. Aos 67 anos, e com mais de 50 no cinema, televisão e teatro, o ator está em cartaz com Baixa Terapia, nova montagem que vem no embalo de outras duas recentes experiências cênicas – Tribos, de 2013, sobre a rotina de uma família disfuncional, e Vermelho, um drama de 2012 que questionou a visão artística a partir da obra do pintor expressionista Mark Rothko. Em discurso, o ator relembrou a única vez que foi indicado ao prêmio. “Na época, fiquei muito feliz, mas não ganhei. Tenho a impressão que, se fosse indicado hoje, eu também não ganharia, diante de tantos artistas incríveis.”

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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