ROMA, 04 JUN (ANSA) – Um jovem queniano de 30 anos e que diz ser filho de um padre italiano fez um apelo para o papa Francisco ajudar no reconhecimento de suas origens.
Gerald mora no vilarejo de Archers Post, no centro do Quênia, onde é conhecido como “Mario, o mzungu”, que na língua local significa alguém com “fisionomia europeia”. Após uma vida de silêncio, ele decidiu revelar sua história e cobrar um reconhecimento da Igreja Católica.
“Sim, sou filho de um missionário italiano”, contou Gerald, em entrevista à ANSA. Com uma infância marcada pelas brincadeiras dos amigos, que o chamavam de “filho do padre” por causa de sua fisionomia diferente, o queniano encontrou seu suposto pai com a ajuda da associação Coping International, que luta pelo reconhecimento de filhos de sacerdotes católicos.
O homem, hoje com 84 anos, seria um padre da entidade italiana Missionari della Consolata, organização missionária atuante no Quênia. Ele, no entanto, nega a paternidade. “Sempre me empenhei em esclarecer, mas ele sempre me disse não saber de nada”, declarou o superior-geral da ordem, padre Stefano Camerlengo.
“Hoje ele tem 84 anos, e submetê-lo a um teste de DNA me parece uma opção absurda, mas, no fim das contas, ele decidiu fazê-lo para esclarecer, só que a associação [Coping International] apresentou uma denúncia ao Vaticano. Foi desrespeitoso comigo e mostrou uma falta de confiança. Então, a partir de hoje, respondo apenas à Santa Sé”, acrescentou o superior-geral.
A Coping International diz que o Vaticano abriu um inquérito para apurar o caso, que poderia envolver violência sexual, já que a mãe de Gerald tinha 16 anos no momento do parto. “Desde a infância eu sabia que a pessoa com quem minha mãe tinha se casado não era meu pai, que meu pai era um padre chamado Mario.
Minha vida sempre foi muito dura. Cresci me sentindo na família errada. Sentia vergonha por ser diferente de todas as outras crianças”, disse Gerald à ANSA.
Em seguida, ele fez um apelo ao papa Francisco: “Gostaria de falar com ele. Ele deveria conhecer a realidade de ser filho de um padre católico. O trauma, a raiva e a dor que muitos de nós enfrentamos”.
O queniano está convencido de que é filho do padre Mario e exige o reconhecimento de seus direitos, inclusive a cidadania italiana. Ele cursava uma universidade com apoio financeiro dos missionários, mas a ordem cortou a contribuição. Atualmente, Gerald tem uma página na web para angariar fundos para seus estudos. “Espero que alguém possa me ajudar”, declarou. (ANSA)