Homem humilhado nas redes sociais morre em transmissão ao vivo

NICE, 21 AGO (ANSA) – Um francês de 46 anos, que ganhou fama virtual por vídeos de abusos e humilhações, morreu na última segunda-feira (18) durante uma transmissão ao vivo que durou 298 horas, em circunstâncias ainda não esclarecidas.   

O caso está sendo investigado pelo Ministério Público de Nice para verificar se Raphaël Graven, mais conhecido como “Jean Pormanove”, optou por se submeter a esses abusos ou se foi coagido.   

Graven, um ex-militar com aparência física frágil, acumulava mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, recebendo atenção especial de usuários na plataforma australiana Kick, que permite a transmissão de vídeos ao vivo.   

Nas imagens, ele costumava aparecer ao lado de outros três indivíduos: Owen Cenazandotti, de 26 anos, conhecido como “Naruto”; Safine Hamadi, ou “Safine”, de 23; e um homem com deficiência conhecido como “Coudoux”.   

O jornal Le Monde lembra que nos vídeos, Pormanove (Graven) e Coudoux eram constantemente maltratados e espancados pelos outros dois, que lhes davam tapas na cabeça, agarravam-lhes pelo pescoço, cuspiam neles ou os atingiam com objetos.   

A última transmissão, filmada em Contes, perto de Nice, é encerrada com Graven, aparentemente já em óbito, deitado ao lado de outros dois participantes no chão.   

O Ministério Público ordenou a autópsia do corpo, enquanto a polícia francesa apreendeu as câmeras e os equipamentos utilizados durante a transmissão ao vivo, que são de propriedade da LeLokal, empresa de Cenazandotti. Já a Kick anunciou que cooperará com a investigação.   

Em um vídeo amplamente divulgado após a morte de Graven, Cenazandotti e Hamadi ordenaram que ele dissesse que, se morresse, seria “por causa de sua saúde debilitada”, e não por culpa deles. Em outras imagens, que também viralizaram nos últimos dias, ele reclamou dos abusos sofridos e disse que precisava aceitá-los para ganhar dinheiro.   

Em dezembro, a polícia de Nice já havia aberto uma investigação após uma reportagem do Mediapart destacar a existência de vídeos de abusos e maus-tratos contra pessoas vulneráveis, com milhares de visualizações, principalmente no Kick. Os supostos crimes incluíam incitação ao ódio e à violência contra indivíduos ou grupos de pessoas em razão de sua deficiência, além da disseminação de conteúdo relacionado a crimes contra pessoas.   

No início de janeiro, como parte da apuração da promotoria, Cenazandotti e Hamadi foram presos e posteriormente liberados, enquanto Graven e “Coudoux” também foram interrogados. Na ocasião, o Ministério Público afirmou que todos os envolvidos negaram ter cometido qualquer crime. (ANSA).