O presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, pediram neste domingo esforços para proteger “a frágil” Europa das divisões diante das crises, durante as comemorações em Verdun do centenário de uma das mais sangrentas batalhas da Primeira Guerra Mundial.

“Nosso dever sagrado se inscreve no solo arrasado de Verdun, e se resume em poucas palavras: vamos amar nossa pátria, mas proteger nossa casa comum, a Europa, sem a qual estaríamos expostos às tempestades da História”, declarou o chefe de Estado francês diante das milhares de cruzes do ossário de Douaumont (leste).

“É importante para nossa sobrevivência não nos fecharmos em nós mesmos, mas estarmos abertos aos outros”, afirmou a chanceler alemã, cujo país acolheu mais de um milhão de refugiados em 2015.

Os dois líderes ressaltaram a fragilidade de uma Europa “onde as forças da divisão, do fechamento e do recuo estão em marcha”, segundo François Hollande, a menos de um mês do referendo sobre a permanência do Grã-Bretanha na União Europeia.

“Não podemos jamais esquecer, sobretudo aqui, que a História pode ser trágica, que podem ocorrer mudanças e avanços que de repente jogam um país, uma região – e vemos isso no Oriente Médio – no caos”, ressaltou.

Hollande e Merkel iniciaram o dia no cemitério alemão de Consenvoye.

O presidente francês explicou que desejava que este dia fosse uma mensagem para “iluminar o mundo de hoje”, recordando o “suicídio” de nações que afundaram “pelo nacionalismo”.

A respeito da reconciliação franco-alemã, François Hollande insistiu que “o que desejamos fazer com a chanceler Merkel não é uma reconciliação, que já está feita”, mas “queremos dizer juntos o que desejamos fazer, neste atual momento, pela Europa”, um continente que “está doente do mal do populismo”.

Para Merkel, que agradeceu o convite à cerimônia em Verdun como um sinal da “grande confiança” entre os dois países, “não há dúvidas” de que a Europa enfrenta grandes dificuldades. Mas a Europa “já fez e conseguiu muitas coisas”, insistiu a chanceler, recordando a capacidade franco-alemã de “encontrar compromissos” comuns.

‘Símbolo de uma paz fecunda’

Depois da cerimônia no cemitério alemão, os líderes visitaram Verdun. Nesta cidade, convertida em “símbolo de um paz fecunda”, como escreveu o general Charles De Gaulle no 50º aniversário da batalha, o presidente e a chanceler discutiram, durante o almoço, importantes questões para a Europa, como a crise migratória, que divide Paris e Berlim.

O Brexit, a um mês do referendo de 23 de junho sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, será outro dos assuntos a ser tratado pelos líderes.

Depois de visitar o memorial de Verdun na companhia do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Parlamento Europeu, Martin Schulz, ocorreu o momento culminante do dia: a entrada do presidente e da chanceler, acompanhados cada um por uma criança, na imensa nave do Ossário de Douaumont, onde estão enterrados os corpos de 130.000 soldados franceses e alemães.

Há mais de 30 anos, diante desse mesmo ossário, em dezembro de 1984, o chanceler alemão Helmut Kohl e o chefe de Estado francês François Mitterrand já haviam declarado de forma altamente simbólica a amizade franco-alemã.

No mesmo momento os sinos em um raio de quilômetros do local soarão em memória da batalha que entre fevereiro e dezembro de 1916 causou mais de 300.000 vítimas nos dois campos, e cuja recordação segue muito viva na memória coletiva dos franceses.

A Batalha de Verdun foi finalmente vencida pelo exército francês sob o comando de Philippe Pétain, futuro marechal da França e que seria durante a Segunda Guerra Mundial o artífice da colaboração com os nazistas.

Não é a primeira vez que Hollande e Merkel lembram juntos a Primeira Guerra Mundial. Em 8 de julho de 2012, o presidente francês, eleito dois meses antes, recebeu a chanceler em Reims (noroeste do país) para celebrar a reconciliação franco-alemã. Esta havia sido selada 50 anos antes pelo general de Gaulle e pelo chanceler Konrad Adenauer, nesta outra cidade mártir da guerra de 1914-1918.

A orquestra israelense-palestina dirigida por Daniel Barenboim, e símbolo de outra reconciliação, deveria estar presente na cerimônia. Porém, ele não poderá comparecer oficialmente, devido “às limitações do local” segundo os organizadores. Ela foi substituída por uma “orquestra adaptável” da Guarda Republicana francesa.

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