Os liberais no poder na Holanda venceram as eleições legislativas realizadas nesta quarta-feira, com o partido de extrema direita do deputado Geert Wilders ficando na segunda posição, empatado com outras duas formações, segundo projeções.

De acordo com a televisão pública NOS, o Partido Popular pela Liberdade e a Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte, obteve 31 cadeiras de um total de 150, enquanto o Partido pela Liberdade (PVV), de Wilders, conquistou 19, o mesmo número que os democratas cristãos e o Partido da Democracia D66.

Os trabalhistas do PvdA, aliados da atual coalizão de governo, sofreram uma derrota histórica, perdendo 29 cadeiras, enquanto os ecologistas do GroenLinks, liderados pelo carismático Jesse Klaver, quadruplicaram sua representação, com 16 deputados.

A votação teve o alto índice de participação de 81% entre os 12,9 milhões de eleitores holandeses, segundo o instituto Ipsos.

Rutte comemorou a vitória estimando que “após o Brexit e as eleições nos Estados Unidos, a Holanda disse não ao populismo”.

Apesar do segundo lugar, Wilders agradeceu pelo o que considerou um “sucesso”.

“Eleitores do PVV, obrigado! Ganhamos assentos!”, disse pelo Twitter o controverso deputado.

“E Rutte ainda não se livrou de mim”, acrescentou.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, falou com Rutte na noite desta quarta e o cumprimentou pela “clara vitória”, segundo sua porta-voz Margaritis Schinas.

“Foi uma votação pela Europa, uma votação contra os extremistas”, destacou Schinas no Twitter.

Os holandeses votaram para a definição de um novo Parlamento, em eleições que mediram a ascensão do populismo na Europa após um fim de campanha agitado pela crise diplomática com a Turquia.

Depois do Brexit no Reino Unido e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, as eleições holandesas eram consideradas um indício do que pode acontecer nas presidenciais da França, em abril e maio, e nas legislativas da Alemanha, no fim do ano.

A campanha esteve dominada pelo confronto entre Mark Rutte e Geert Wilders.

Wilders votou em uma escola dos arredores de Haia, diante de muitos jornalistas. “Seja qual for o resultado das eleições hoje, o gênio não voltará a sua lâmpada e esta revolução patriótica seguirá”, afirmou.

“Acredito que os acontecimentos nos Estados Unidos e talvez em outros países europeus demonstram que as pessoas normais querem ser novamente soberanas em seus países”, acrescentou.

Do outro lado da cidade, Rutte também votou e falou brevemente com estudantes que, gritando seu nome, prometiam “votar um dia por você”.

“Esta eleição é crucial para a Holanda”, declarou à imprensa. “É a oportunidade para uma democracia como a nossa de colocar fim ao efeito dominó do mau populismo”.

Crise com a Turquia

Rutte segue para um terceiro mandato como primeiro-ministro da Holanda, uma das maiores economias da Eurozona e membro fundador da União Europeia, onde vivem 17 milhões de pessoas.

Durante a campanha, Wilders prometeu fechar as fronteiras aos imigrantes muçulmanos, proibir a venta do Corão e acabar com as mesquitas.

Rutte se concentrou em destacar as conquistas econômicas e a estabilidade do país em seus seis anos como primeiro-ministro. Sua posição durante a crise diplomática com a Turquia parece ter fortalecido sua imagem.

Rutte permaneceu firme diante das ameaças do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, depois que o governo proibiu que dois ministros da Turquia fizessem campanha em Roterdã entre a comunidade turca a favor do referendo de abril que reforça os poderes presidenciais.

Mesmo se vencesse, Wilders teria poucas possibilidades de entrar no governo porque a maioria dos partidos descartou uma negociação com ele.

Apesar da postura radical de Wilders ter recebido apoio após a crise dos refugiados, para muitos holandeses suas ideias contrárias à imigração continuam sendo difíceis de aceitar.

Mas com a segunda posição obtida nesta quarta-feira, Wilders conseguiu incluir seu partido como um dos principais no cenário político.

Os holandeses têm orgulho do consenso político e em geral os partidos levam três meses para estabelecer a coalizão de governo, em um cenário político fragmentado.

Desta vez, analistas acreditam que serão necessários quatro ou até cinco partidos para alcançar a maioria de 75 cadeiras no Parlamento.