Holanda tem instabilidade política após líder da ultradireita deixar coalizão

Holanda tem instabilidade política após líder da ultradireita deixar coalizão

O líder da ultradireita da Holanda, Geert Wilders, anunciou nesta terça-feira (03/06) que o seu partido, o PVV, está deixando a coalizão de governo devido a um desentendimento sobre imigração, desencadeando uma crise política no país e possivelmente o fim do governo de apenas 11 meses do primeiro-ministro Dick Schoof.

Em tese, Schoof pode tentar permanecer no poder à frente de um governo de minoria, mas o mais provável é que ele convoque uma nova eleição, que seria realizada até o fim deste ano. O premiê chamou uma reunião de emergência do governo para a tarde desta terça-feira.

O PVV, que tem 37 dos 150 assentos no parlamento, era o maior partido da coalizão e governava com mais três partidos de direita desde meados de 2024. São eles o liberal VVD, o novo partido de centro-direita NSC e o partido dos agricultores BBB.

Wilders exigia que um adendo de dez pontos com propostas para restringir a entrada de requerentes de refúgio na Holanda fosse adicionado ao acordo que formou o governo em julho do ano passado.

Wilders, conhecido como o “Trump holandês”, tornou público esse anexo na segunda-feira da semana passada e passou a fazer ameaças de que deixaria a coalizão se suas exigências sobre imigração não fossem atendidas, mostrando-se frustrado com o que considerava ser o ritmo lento da coalizão para implementar suas propostas.

Entre elas estão o fechamento das fronteiras para solicitantes de refúgio, o fortalecimento dos controles fronteiriços, o fechamento de centros de recepção, o fim da reunificação familiar para refugiados reconhecidos e a deportação de cidadãos com dupla nacionalidade condenados por crimes.

Pressão sobre parceiros de coalizão

No domingo passado, ele aumentou ainda mais a pressão sobre seus parceiros ao afirmar que deixaria a coalizão se os outros três partidos não apoiassem a maioria de suas propostas.

Por causa dessa ameaça, os líderes dos quatro partidos se reuniram nesta segunda-feira à tarde para exigir explicações de Wilders. A reunião durou pouco menos de uma hora, e os três parceiros minoritários garantiram que não iriam se opor aos planos, mas que a responsabilidade de implementá-los ficaria com a ministra da Migração, Marjolein Faber, do partido de Wilders.

A proposta não agradou Wilders, que disse ter a percepção de que seus parceiros não estavam dispostos a apoiar a implementação imediata das medidas. Uma nova reunião ocorreu na manhã desta terça-feira, mas, 15 minutos depois, Wilders escreveu numa rede social que o PVV estava deixando a coalizão.

Parlamento fragmentado

O partido de Wilders venceu a eleição de novembro de 2023, tornando-se a maior bancada do parlamento, com uma campanha eleitoral centrada em promessas de restringir a imigração, mas não tinha maioria para governar sozinho.

Após vários meses de negociações, em julho de 2024, Wilders chegou a um acordo com três partidos de direita para formar um governo sem a participação dele – o acordo só foi possível porque Wilders renunciou a qualquer cargo. Porém, o governo deveria implementar a política migratória “mais rigorosa” que o país já viu.

O governo, com cinco ministros do PVV, era liderado por Dick Schoof, um funcionário público de carreira sem filiação partidária e ex-chefe da espionagem, e logo entrou em conflito com a União Europeia devido à política migratória.

As pesquisas eleitorais colocam o PVV no mesmo patamar da aliança entre o Partido Verde e o Partido Trabalhista, que hoje é o segundo maior grupo no parlamento. O partido liberal VVD, tradicional na política holandesa, também está bem posicionado nas sondagens, indicando que uma nova eleição seria muito disputada.