O grupo The Bamboos, na canção “Where does the time go?”, indaga para onde vai o tempo. Não sei ao certo. Só sei que o hoje é o sempre. O amanhã é o talvez.

Já o ontem, passou e se acumulou, como os resíduos que fertilizam as várzeas. O passado existe como resíduo no presente, mas submetido a um processo de constante renovação e desgaste em que o importante remanesce nos escritos, na memória e no inconsciente.

Ao lado da história do mundo subexiste outra história, secreta, não escrita, que não se materializa nos registros oficiais. Que vive e morre nas memórias.

A história não escrita talvez seja mais importante que a dos registros escritos, tal qual um olhar de quem nada fala mas tudo diz. Hemingway tinha uma visão ainda mais radical do passado. Para ele, o ontem e o amanhã não existiam. “There is nothing else than now”, disse certa vez.

Considerando que o hoje é o sempre e que nada existe além disso, o que temos então? A eternidade diária, que surge com o despertar, sobrevive enquanto estamos acordados e foge para o passado ao adormecermos. O que fazer da nossa eternidade diária? Olhar o tempo. Respirar forte. Olhar nos olhos. Falar sobre o amor. Lutar contra o enfado ou deixar-se dominar por ele, desde que profunda e intensamente. Nada a meia-boca.

Também devemos cultivar as mudanças, o que é sinal de evolução, fazendo de cada dia uma reforma permanente e cumulativa que, ao final, poderá se transformar em uma revolução. As reformas cumulativas do hoje podem nos tornar muito melhores do que éramos ontem.

E quando olharmos para trás veremos que valeu a pena mudar.

Winston Churchill disse que mudar é progresso; e ser perfeito é mudar sempre. Raul Seixas também ia nessa direção quando dizia “que preferia ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. É incrível que figuras tão díspares quanto o cantor e compositor Raul Seixas e o estadista britânico Winston Churchill dessem tanto valor à mudança.

O que nos falta atualmente é entender que o hoje é o sempre e que é nele que devemos operar as mudanças. Desapegando do passado, que existe como alegoria, e olhando o futuro, que nos chega ao amanhecer.

Hemingway tinha uma visão ainda mais radical do passado. Para ele, o ontem e o amanhã não existiam. “There is nothing else than now”, disse certa vez