O circuito atual de Interlagos completa 30 edições na Fórmula 1, mas o velho traçado de 7.823 metros no qual oito corridas da principal categoria do automobilismo foram disputadas (1973 a 1980) não sai da memória e do coração de pilotos, fãs e jornalistas. O circuito atual tem 4.309 metros.

Várias foram as mudanças feitas na pista, com destaque para o “S” do Senna, que na proposta do próprio piloto, em 1989, deveria ser feito de forma a tornar o traçado mais veloz. Mas as curvas 1 e 2 da pista antiga, além da série de curvas, ainda são lembradas com saudade.

“Era um circuito sensacional, monumental. Dá dor no coração lembrar que a pista foi cortada e não existe mais”, afirmou Ricardo Divila, engenheiro da Copersucar, equipe de Emerson e Wilson Fittipaldi Junior, por telefone. Ele mora na Inglaterra. “Interlagos antigo tinha curvas de alta velocidade, curvas de baixa, cotovelo, ‘S’, subidas, descidas… As equipes vinham um mês antes da corrida para fazer testes que serviriam de base para o ano todo”, lembrou. “Todo mundo sabia que o que dava certo em Interlagos, serviria para as demais pistas.”

“Era muito prazeroso e desafiador”, disse Chico Serra, de 62 anos, que não chegou a pilotar um Fórmula 1 em Interlagos, mas o fez com grande sucesso na Stock Car, categoria da qual foi tricampeão (1999, 2000 e 2001) e que é a principal competição do automobilismo brasileiro. “As duas primeiras curvas eram feitas com total aceleração.”

Alguns trechos do velho Interlagos ainda existem até hoje. A maior parte serve como pista de apoio para a circulação de veículos de serviço ou área de escape. Uma das áreas perdidas na grande reforma no autódromo foi a antiga reta oposta, a maior do circuito, com 1 quilômetro de extensão.

FÓRMULA 1 “RAIZ” – Junto com o velho formato da pista, ficaram no passado memórias de uma época mais romântica e simples do automobilismo. O mecânico e empresário Claudio Carignato foi ver Emerson Fittipaldi e companhia em ação de 1973 a 1979 e transpira emoção ao falar dos velhos tempos.

“Acampávamos na subida dos boxes na quarta-feira à noite. Armávamos um andaime de madeira, que a gente levava na pick up e assistia a tudo do alto”, afirmou o fã de automobilismo, hoje com 65 anos. “Um ex-mecânico, amigo meu, roubou uma sacola com o macacão do Gilles Villeneuve (piloto canadense da Ferrari), vendeu e entrou na corrida de graça.”

Esta proximidade com os carros também é relembrada pelo jornalista Castilho de Andrade, há 50 anos no automobilismo. “O James Hunt (campeão em 1976) tinha um fã-clube. Quando ele soube disso, pegou um carro de apoio da equipe (McLaren) e foi até o grupo para conversar com as pessoas.”

Castilho, diretor de mídia do GP do Brasil, também lembra de um fato curioso, ocorrido com Emerson. “Em 1976, no primeiro ano dele na Copersucar, após algumas voltas no treino, ele voltou para os boxes e assinalou que tinha problemas no carro. Um torcedor, querendo ajudar, pegou o macaco e levantou o carro. O Emerson ficou furioso”, relembrou.