“Quando deu à luz sua última pérola / Ela esvaziou seu corpo como uma ostra”. Foi assim que os cronistas da corte do Império Mogol descreveram a morte de Mumtaz Mahal, esposa do imperador Shah Jahan. Ela faleceu no parto do 14º filho do casal, em 1631. Antes de perder a consciência, a mulher de 38 anos pediu ao marido que nunca mais se casasse e, em sua homengem, criasse um mausoléu que seria a representação do Paraíso na Terra. Construído às margens do Rio Jumma, em Agra, ao noroeste da Índia, o Taj Mahal é uma das grandes maravilhas do mundo — seu domo principal está a 73 metros do chão. É todo feito de ouro, metais preciosos e mármore, com valores impossíveis de serem estimados. Apesar de ter sido erguido como o maior de todos os monumentos ao amor, sua origem gerou ódio e levou ao fim do domínio mogol.

Tão romântica como trágica, essa incrível história é o tema de Branca é a Cor do Luto – A Construção do Taj Mahal e o Declínio de um Império, escrito por Diana e Michael Preston, historiadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra. O casal ficou famoso pelas publicações que unem o rigor da pesquisa acadêmica à linguagem popular, estilo que vem lhes rendendo prêmios e reconhecimento da crítica — a emissora britânica BBC acaba de transformar o livro O Naufrágio do Lusitania, sobre o navio de passageiros que afundou em 1915, em uma minissérie de sucesso.

O Taj Mahal levou 22 anos para ser construído e contou com a mão de obra de 20 mil homens. Incorporou estilos arquitetônicos da cultura persa, islâmica e hindu. Sua beleza já foi descrita de diversas maneiras.

Para o poeta indiano Rabindranath Tagore, ele é “uma lágrima no rosto do tempo”.

Quem melhor capturou a intensidade da energia no local, porém, foi a mulher de um oficial britânico no início do século 19: “Não sei colocar em palavras o que penso, mas daria minha vida amanhã para receber uma homenagem igual a essa”.

Historiadores de Oxford narram a trágica história do maior amor do mundo
Mumtaz Mahal e Shah Jahan: tristeza do imperador após a morte da esposa gerou intrigas familiares que levaram ao seu afastamento do poder (Crédito:Divulgação)

Briga pelo poder

Apesar do esplendor do projeto de Shah Jahan, que hoje atrai milhares de turistas de todo o mundo, o Taj Mahal saiu caro para o seu idealizador. O custo absurdo da obra e o impacto emocional da morte de Mumtaz dilapidaram os tesouros do imperador e o afastaram do poder e das decisões do governo.

Nas escrituras, os historiadores da corte atribuíram frases a Shah Jahan que testemunham seu desespero: “Ainda que o Senhor Incomparável tenha nos oferecido tanta riqueza e fartura, a pessoa com a qual eu gostaria de aproveitar tudo isso se foi”.

O imperador chegou a cogitar a renúncia ao trono e trocou suas joias e roupas sofisticadas por “simples trajes brancos como o amanhecer”, que usaria nos dois anos seguintes. O preto era a cor do luto entre os mogóis, mas Jahan optou pela austeridade do luto dos hindus, o branco. De tanto chorar, foi obrigado a usar óculos. Sua barba farta e cabelos escuros ficaram cinzentos em poucos dias.

O imperador deixou de comparecer a eventos oficiais, suscitando dúvidas sobre sua capacidade de governar entre a população. Poucos dias depois da tragédia, no tradicionalmente alegre Festival da Água de Rosas, ele ofertou joias e frascos coloridos aos filhos e ao pai de Mumtaz, Asaf Khan, mas as celebrações foram encerradas de forma prematura.

O clima de pessimismo gerou tensão entre os membros da família imperial, que aproveitaram para disseminar a ideia de que Jahan estava louco e sem condições de manter o poder.

Havia ainda a influência dos fundamentalistas religiosos, hindus e muçulmanos, que brigavam pelo poder e estimulavam a divisão da região.

Em meio à sucessão de incertezas, Jahan tornou-se alvo dentro da própria família. Quatro de seus catorze filhos com Mumtaz disputaram o poder entre si. O vitorioso foi o radical islâmico Aurangzeb, que matou dois irmãos e diversos netos do pai.

Ao assumir, o novo imperador mandou prender o pai no Forte de Agra, do outro lado do rio Jumma. Shah Jahan podia avistar o imponente Taj Mahal por entre as grades da sua cela.