Esperança. É essa a mensagem que o diretor Renato Carrera gostaria que as crianças tirassem da peça Malala, A Menina Que Queria ir Para a Escola, que estreia nesta sexta, 13, em São Paulo.

“O País está triste e bélico. Os adultos estão cabisbaixos e prontos para a briga e para a guerra. Isso afeta as crianças. Precisamos resgatar a esperança na mudança, na transformação. As meninas têm que saber da força que elas têm. E os meninos precisam se juntar a elas, ouvi-las, procurar a parceria e colocar o pensamento em ação”, diz Carrera, diretor de outras três peças infantis e de Gisberta, 2 x Nelson – A Falecida e A Serpente e Abajur Lilás, entre outras.

Em cartaz no Teatro Procópio Ferreira até 28 de outubro, o espetáculo é baseado no livro homônimo, de 2015, da jornalista Adriana Carranca – uma reportagem para crianças sobre Malala Yousafzai, a menina paquistanesa que foi baleada na cabeça pelo Taleban em 2012 e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2014, e sobre a relação de Adriana com a história. Repórter do jornal O Estado de S. Paulo na época do atentado, ela foi quatro vezes ao Afeganistão, à fronteira com o Paquistão e chegou a visitar a casa de Malala.

Na peça, que tem canções originais de Adriana Calcanhotto e já foi vista por 25 mil crianças no Rio, Curitiba, Vitória e Uberlândia, a atriz Tatiana Quadros, idealizadora do projeto, faz o papel da jornalista que atravessa o mundo para descobrir o que aconteceu de verdade com a Malala e por que ela estava sendo perseguida. Uma história que se passa no Vale do Swat, e é transportada para um quintal brasileiro – era preciso aproximar a história das crianças daqui. E isso não foi exatamente difícil, conta Renato Carrera.

“No Rio, nossas crianças convivem diariamente com helicópteros e balas de revólver. Várias delas ainda estudam em carteiras quebradas e em lugares sem condições, mas, como eu, que venho de um bairro pobre no centro da cidade, não desistem.”

A realidade era parecida, e o quintal daqui e de lá também. “As brincadeiras e as alegrias que permeavam a realidade em meio ao caos violento e opressor no Morro do Alemão, no centro do Rio ou no Paquistão eram as mesmas, infelizmente. O quintal se tornou nosso cenário”, explica.

“A criança de hoje convive com a violência direta em nossas cidades. Ela sabe de tudo. Sente e tem ideias e pensamentos que mudam o mundo. Precisamos ouvi-las”, completa.

Adriana Carranca, que trabalhou com Rafael Souza Ribeiro no roteiro da peça, ressalta, também, a importância de falar para elas. “O livro ajuda a refletir, e tenho certeza de que as crianças levam essa reflexão para casa. E isso transforma todo mundo. Os adultos estão muito ocupados para prestar atenção nisso, já têm sua opinião e ninguém quer ouvir. Mas as crianças estão ouvindo. É muito importante falar para elas. Elas vão crescer e vão fazer o Brasil.”

O livro já está em sua 21ª edição e tem sido lido em casas, escolas e até presídios. “A principal mensagem que eu queria passar é que às vezes pequenas decisões que você toma dentro de casa, no ambiente familiar, mudam tudo. Dizem que a Malala mudou o mundo. Isso começou a mudar quando o pai dela decidiu que ia levá-la para a escola. Uma decisão pessoal, sem bandeira. Essa atitude particular fez com que isso fosse discutido naquela região e outras pessoas levassem suas filhas. E, quando aconteceu o que aconteceu com ela, a questão reverberou para o mundo inteiro.”

Para a atriz Tatiana Quadros, esta é uma história de superação, de amor aos livros, à educação, à liberdade. “Neste momento, é muito importante trazermos esses valores – mostrar como a educação nos liberta da violência e somente a partir da educação é possível transformar o mundo.”