Bolsonaro tem cantado aos quatro ventos a força do seu governo. Na semana passada, disse que acabou com a Lava Jato porque, com ele no Planalto, a corrupção deixou de existir. Anteontem, soltou a pérola sobre acertar com uma voadora no pescoço qualquer corrupto que encontrasse à sua volta.

No discurso do presidente, sua grande firmeza moral, sua retidão inabalável, teriam o poder de dissuadir todos aqueles que podem se sentir tentados a meter a mão na cumbuca do dinheiro público.

O problema é que há fortíssimos indícios de que todo o clã presidencial já se beneficiou, em algum momento, da forma mais vagabunda de corrupção: o desvio de verbas parlamentares por meio de rachadinhas e funcionários fantasmas. 

Será que Jair Bolsonaro já deu uma voadora no pescoço de seu filho Flávio? Será que já acertou em cheio o filho Carlos? E Michele Bolsonaro, em cuja conta Fabrício Queiroz depositou 89 mil reais – Michele já levou a devida pernada? Sem falar no autochute: teria Bolsonaro descoberto a maneira de dar uma voadora no próprio pescoço?  

Se nada disso aconteceu, o presidente é um hipócrita. E hipócritas não põem medo em ninguém. 

Como diz a Bíblia, que algum pastor aliado talvez tenha dado de presente a Bolsonaro: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mateus 7:5).

Como se fosse um castigo de papai do céu, horas depois de Bolsonaro descrever o seu fantástico golpe acrobático anticorrupção (só falta registrar a marca), uma operação da polícia federal contra o desvio de recursos da Saúde pública flagrou o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), que é amigão de Bolsonaro e era um dos vice-líderes do governo, com dinheiro enterrado na poupança. Poupança, no sentido que lhe dava o trapalhão Didi Mocó. Eram 15 mil reais: um maço e tanto. 

Falta agora o eleitor aplicar a Bolsonaro o devido castigo. Digamos que ele não possa ser responsabilizado pelas taras de Chico Rodrigues. Ainda assim, contrariando as promessas de campanha, seu governo não fez nada para deter a corrupção ou para melhorar a segurança pública. Bolsonaro, ele mesmo, não é o exemplo que pretende ser.