A eliminação de Hasan Nasrallah em uma operação de Israel coloca o enfraquecido movimento libanês diante de um dilema existencial: dar uma resposta sem precedentes, ou não fazê-lo e assumir uma “derrota total”, apontam os analistas.

Considerado o homem mais poderoso do Líbano, Hasan Nasrallah foi durante mais de 30 anos o rosto do grupo pró-Irã Hezbollah, arqui-inimigo de Israel.

A sua morte na sexta-feira (27) em um bombardeio em Beirute, o mais recente de uma série de ataques israelenses que mataram os principais comandantes do movimento, aumenta ao máximo a pressão sobre a organização islamista.

“Se o Hezbollah não responder com o seu arsenal de mísseis de precisão de longo alcance, vamos deduzir que simplesmente não tem a capacidade”, afirmou Heiko Wimmen, analista regional do do International Crisis Group (ICG).

“Ou vamos assistir uma reação sem precedentes do Hezbollah […] ou a sua derrota total”, acrescentou.

– “Incapaz de proteger a base” –

Além da eliminação dos seus líderes, o grande ataque executado em meados de setembro contra os pagers e walkie-talkies dos membros do Hezbollah, que matou 39 pessoas e feriu quase 3 mil, abalou o movimento. Hasan Nasrallah reconheceu que foi “um golpe duro e sem precedentes”.

Para Sam Heller, analista da Century Foundation, o movimento enfrenta agora um problema existencial: se não responder, poderá encorajar Israel a continuar os seus ataques.

Em um ano de confrontos nas fronteiras entre os dois lados beligerantes, à margem da guerra em Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, o Hezbollah parecia controlar as suas respostas, segundo a maioria dos analistas.

“Eles não mostraram os recursos que pensávamos que tinham”, declarou Heller, admitindo que o Hezbollah pode ter divulgado uma imagem exagerada das suas capacidades. Outra possibilidade seria que a maior parte destes elementos foram destruídos pelos israelenses.

De qualquer forma, sua fama foi abalada.

Desde o início da campanha de bombardeios de Israel contra os redutos do Hezbollah no sul e no leste do Líbano e no subúrbio sul de Beirute, mais de 700 pessoas morreram e dezenas de milhares foram forçadas a fugir das suas casas.

O movimento “agora parece incapaz de proteger a sua base e a si mesmo”, segundo Heller.

– “Golpe esmagador” –

“Não há palavras para denunciar o golpe devastador que isto significará para o Hezbollah e para todo o país”, disse Amal Saad, pesquisadora libanesa da Universidade de Cardiff.

O movimento terá de responder para salvar sua imagem e “encorajar os seus apoiadores”, mas também evitar que a sua resposta não provoque “muitas bombas contra Beirute e todo o Líbano”, disse ela.

No entanto, embora o Hezbollah pareça “paralisado” pelas suas recentes derrotas, está longe de estar morto, alertou Mohanad Hage Ali, do Carnegie Middle East Center.

“Precisa de uma nova direção, de um sistema de comunicação e restaurar a narrativa que impulsiona o imaginário de seus simpatizantes”, disse.

Para Amal Saad, o Hezbollah foi concebido para “resistir a choques deste tipo”. A analista citou como exemplo a execução de Imad Mughniyeh, comandante militar do Hezbollah falecido em 2008 em Damasco, o que não destruiu o movimento.

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