BEIRUTE (Reuters) – O grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, disse neste domingo que não vê motivo para adiar as eleições parlamentares do Líbano marcadas para, dias depois que a política virou de cabeça para baixo no país com a retirada de Saad al-Hariri da vida pública.

Hariri, o principal político muçulmano sunita do Líbano e três vezes ex-primeiro-ministro, declarou na segunda-feira que irá boicotar a eleição, aumentando as incertezas que o país enfrenta em meio a crise econômica devastadora.

“Todas as indicações são de que as eleições parlamentares ocorrerão a tempo”, disse o xeque Naim Qassem, vice-líder do Hezbollah, segundo uma cópia de seu discurso vista pela Reuters.

O patriarca cristão maronita Bechara Boutros Al-Rai, um crítico do Hezbollah, disse no domingo que o movimento de Hariri não deve ser usado como desculpa para pedir um adiamento.

Os adversários do Hezbollah esperam derrubar a maioria conquistada pelo grupo e aliados, incluindo o Movimento Patriótico Livre Cristão do presidente Michel Aoun em 2018.

Desde então, a crise financeira mergulhou a maior parte dos libaneses na pobreza. O colapso veio à tona no final de 2019, quando as queixas econômicas desencadearam protestos contra a elite dominante ao longo de décadas de corrupção e má gestão.

Apesar disso, o Hezbollah não espera que a eleição produza um resultado muito diferente de 2018, disse Qassem, descartando o que ele descreveu como expectativas de que o Parlamento seja “virado de cabeça para baixo”.

De acordo com Qassem, as pesquisas de opinião do Hezbollah em todo o Líbano mostraram que “os resultados da eleição serão próximos da composição do atual parlamento, com pequenas mudanças que não afetam a composição geral.”

“Por isso, dizemos àqueles que têm grandes esperanças: coloque os pés no chão”, disse Qassem, cujo grupo é designado como organização terrorista por países como os Estados Unidos.

Enquanto nenhum dos principais partidos do Líbano pediu um adiamento das eleições – Aoun disse no sábado que não via razão para um – muitos observadores acreditam que isso pode ser usado por políticos influentes se sentirem que podem perder.

Hariri deixa para trás uma comunidade sunita fraturada, onde analistas acreditam que aliados sunitas do Hezbollah possam ganhar mais assentos.

Mas os adversários do Hezbollah também esperam ganhar.

O irmão de Hariri, Bahaa , anunciou na sexta-feira que está entrando na política. Crítico ferrenho do Hezbollah, ele planeja apoiar candidatos, mas não concorrerá sozinho.

(Reportagem de Tom Perry e Suleiman al-Khalidi)