FILHAS Boo-jin e Seo-hyun: outras empresas (Crédito: Kim Hong-Ji )

Os herdeiros de Lee Kun-hee têm em mãos uma conta bilionária para pagar — US$ 10,8 bilhões em impostos sobre tudo que foi herdado. Trata-se de uma tributação jamais vista. Falecido em outubro de 2020, ele era o presidente da empresa Samsung, uma transnacional sulcoreana. A dívida coloca dúvidas sobre a saúde financeira da empresa, mas a família resolveu surpreender e anunciou a doação de obras de arte de um acervo bilionário. Avaliadas em US$ 2,2 bilhões, cerca de 23 mil peças ficarão à disposição da comunidade coreana em museus públicos.

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SALVADOR DALI Quadro: “Família de centauros marsupiais”

Para a viúva Hong Ra-hee e os três filhos do casal ficou a obrigação de se acertar com o fisco local. A senhora Lee tem direito a um terço da fortuna, já os filhos ficam com o restante. Mesmo antes da morte, havia a polêmica de como seria feita a divisão dos bens. O filho primogênito Lee Jae-yong lidera a empresa e é tido como o sucessor de fato. As irmãs Lee Boo-jin e Lee Seo-hyun gerenciam outras empresas do grupo. O pagamento do imposto bilionário pode implicar em perda acionária e prejudicar a continuidade do filho mais velho no comando da Samsung. O imposto devido é mais da metade do patrimônio deixado pelo pai.

A taxação de herança sobre fortunas na Coreia do Sul é a segunda maior do mundo, e pode chegar a 50%, conforme explica o professor de economia do Mackenzie Vladimir Maciel. Perde apenas para o Japão, 55%. “O imposto é pago por indivíduos e empresas que adquirem propriedades por meio de um legado ou herança. O imposto é devido sobre a propriedade legada por um residente ou não residente na Coreia do Sul”.

Cadeia por quase um ano

Na Coreia, a família tem má fama quanto à lisura nos negócios. Especialmente quando o tema é a sucessão dos herdeiros. A acusação é que existe a compra de influência política para garantir Lee Jae-yong no controle do grupo. “De agora em diante, vou garantir que nenhuma polêmica volte a acontecer em relação à questão da sucessão”, reconheceu o primogênito. Mas o histórico de pai e filho deixa suspeita. O patriarca falecido foi condenado a prisão de três anos, em 2009. Mas teve a pena suspensa. O filho foi preso, em janeiro, com condenação de dois anos e meio por suborno. A seu favor, grupos empresariais apelaram por perdão ao governo. Em 2017, ele já havia ficado na cadeia por quase um ano. A Samsung responde por cerca de 20% do PIB da Coreia do Sul.

MARC CHAGAL Quadro: “Amantes com buquê vermelho” (Crédito:Divulgação)

A estratégia utilizada para jogar uma cortina de fumaça na sociedade coreana foi o apelo para a caridade e arte. Eles doaram US$ 900 milhões para construção de um hospital que trata de doenças infecciosas e de câncer e doenças raras em crianças. No campo da arte, a doação é ainda maior. A coleção particular, uma das mais imponentes do planeta, compreende obras de Pablo Picasso, Claude Monet, Salvador Dali, Marc Chagall, Lee Jung-seob, entre tantas outras. O historiador e coordenador do Museu da Obra Salesiana no Brasil, Marcos Lima, diz que esse tipo de doação é apenas um jeito de driblar o fisco. “Contudo, agora as obras passam a fazer parte do patrimônio nacional, podendo ser vistas por mais pessoas”.

LEO JUNG-SEOB Quadro: “O touro” (Crédito:Divulgação)